quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O Rei Está Nu

Este é um conto que trata da vaidade humana. Quanto maior a vaidade, mais tolos nos tornamos. E costumamos alimentar a vaidade uns dos outros.  

Era uma vez um rei muito vaidoso e que gostava de andar muito bem arranjado. Um dia, um alfaiate espertalhão deu-lhe o seguinte conselho:

- Majestade, é do meu conhecimento que apreciais andar sempre muito bem vestido, como ninguém; e bem o mereceis! Descobri um tecido muito belo e de tal qualidade que os tolos não são capazes de o ver. Com um manto assim Vossa Majestade poderá distinguir as pessoas inteligentes das pessoas tolas, parvas e estúpidas que não servirão para a vossa corte.
- Oh! Mas é uma descoberta espantosa! - respondeu o rei. - Traga-me já esse tecido e faça-me a roupa; quero ver as qualidades das pessoas que tenho ao meu serviço.
O alfaiate aldrabão tirou as medidas do rei e, daí a umas semanas, apresentou-se, dizendo:
- Aqui está o manto de Vossa Majestade.
O rei não via nada, mas como não queria passar por parvo, respondeu:
- Oh! Como é belo!
Então o alfaiate fez de conta que estava vestindo o manto no rei, com todos os gestos necessários e exclamações elogiosas:
- Vossa Majestade está tão elegante! Todos vos invejarão!
A notícia correu toda a cidade: o rei tinha um manto que só os inteligentes eram capazes de ver. Um dia, o rei decidiu sair para se mostrar ao povo, desfilando pela cidade, com sua comitiva real acompanhando. 
Toda a gente fingia admirar a vestimenta, porque ninguém queria passar por estúpido, até que, a certa altura, uma criança, em toda a sua inocência, gritou:
- Olha, olha! O rei está nu!
Ninguém conseguiu segurar o riso. Todos gargalharam e só então o rei compreendeu que fora enganado. Envergonhado e arrependido da sua vaidade, correu a esconder-se no palácio.

(Baseado no conto de Hans Christian Andersen)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Conto de Natal


Eu, menino, sentado na calçada, sob um sol escaldante, observava a movimentação das pessoas em volta, e tentava compreender o que estava acontecendo.
que é o natal? Perguntava-me em, silêncio.
Eu, menino, ouvira falar que aquele era o dia em que Papai Noel, em seu trenó puxado por renas, cruzava os céus distribuindo brinquedos a todas as crianças.
E por que então, eu, que passo a madrugada ao relento nunca vi o trenó voador? Onde estão meus presentes? Perguntava-me.
E eu, menino, imaginava que o Natal não deveria ser isso. Talvez fosse um dia especial, em que as pessoas abraçassem seus familiares e fossem mais amigas umas das outras.
Ou talvez fosse o dia da fraternidade e do perdão.
Mas então porque eu, sentado no meio-fio, não recebo sequer um sorriso? Perguntava-me, com tristeza e por que a polícia trabalha no natal?
E eu, menino, entendia que não devia ser assim...
Imaginava que talvez o Natal fosse um dia mágico porque as pessoas enchem as igrejas em busca de Deus.
Mas porque, então, não saem de lá melhores do que entraram?
Debatia-me na ânsia de compreender essa ocasião diferente.
Via risos, mas eram gargalhadas que escondiam tanta tristeza e ódio, tanta amargura e sofrimento...
E eu, menino, mergulhado em tão profundas reflexões, vi aproximar-se um homem...
Era um belo homem...
Não era gordo nem magro, nem alto nem baixo, nem branco, nem preto, nem pardo, nem amarelo ou vermelho.
Era apenas um homem com olhos cor de ternura e um sorriso em forma de carinho que, numa voz em tom de afago, saudou-me:
Olá, menino!
Oi!... respondi, meio tímido.
E, com grande admiração, vi-o acomodar-se a meu lado, na calçada, sob o sol escaldante.
Eu, menino, aceitei-o como amigo, num olhar. E atirei-lhe a pergunta que me inquietava e entristecia:
Que é o Natal?
Ele, sorrindo ainda mais, respondeu-me, sereno:
Meu aniversário.
Como assim? Perguntei, percebendo que ele estava sozinho.
Por que você não está em casa? Onde estão seus familiares?
E ele me disse: Esta é a minha família, apontando para aquelas pessoas que andavam apressadas. E eu menino, não compreendi.
Você também faz parte da minha família... Acrescentou, aumentando a confusão na minha cabeça de menino.
Não conheço você! - eu disse.
É porque nunca lhe  falaram de mim. Mas eu o conheço. E o amo...
Tremi de emoção com aquelas palavras, na minha fragilidade de menino. Você deve estar triste, comentei. Porque está sozinho, justo no dia do próprio aniversário...
Neste momento estou com você - respondeu-me com um sorriso.
E porque eu não queria vê-lo ir-se embora, saí correndo em disparada pela rua. Abandoinei-O, levando-O para sempre no mais íntimo do coração...
E saí em busca de braços que aceitassem os meus...
E eu, menino, nunca mais O vi. Mas fiquei com a certeza de que Ele sempre está comigo, e não apenas nas noites de Natal...
E eu, menino, sorri... pois agora eu sei que Ele é Jesus... E é por causa Dele que existe o Natal.
(Pe. Reginaldo Manzotti)

domingo, 16 de dezembro de 2012

O Mais Valioso


Este belo conto nos faz indagar a nós mesmos: "O que é verdadeiramente valioso para mim?" "Será que estou me importando com as coisas essenciais ou estou simplesmente gastando minha energia com coisas supérfluas e sem profundidade?"
E aí, vem a pergunta mais inquietante: "Será que cumpriremos nossa missão aqui na Terra?"
Cumpriremos sim, se mudarmos nosso foco para o que realmente tem valor. 

Era uma vez um jovem que foi chamado pelo rei para realizar uma tarefa: levar uma mensagem e alguns diamantes a um outro rei de uma terra distante. O jovem recebeu o melhor cavalo do reino para levá-lo na jornada.
Antes de partir, ouviu do rei a recomendação:

- Cuida do mais importante e cumprirás a missão!

O rapaz preparou o seu alforje, escondeu a mensagem na bainha da calça e colocou as pedras numa bolsa de couro amarrada a cintura, sob suas vestes. Subiu no cavalo e partiu de madrugada, determinado a não falhar em sua empreitada. Estava disposto a mostrar ao rei que ele era um cavaleiro nobre e valente, pronto para desposar a princesa. Aliás, esse era o seu sonho e parecia que a princesa correspondia às suas esperanças. 

Para acelerar sua tarefa, ele muitas vezes saía da estrada e pegava atalhos tortuosos e íngremes, que sacrificavam sua montaria e obrigavam o animal a dar o máximo de si. Quando parava em alguma estalagem para descansar, deixava o cavalo ao relento, não lhe aliviava da sela e nem da carga, tampouco se preocupava em dar-lhe de beber ou comer.

- Assim, meu jovem, acabarás perdendo o animal - disse alguém.
- Não me importo - respondeu ele. - Tenho dinheiro. Se este morrer, compro outro. Nenhuma falta fará!

Com o passar dos dias e sob tamanho esforço, o pobre animal, não suportando mais os maus-tratos, caiu morto na estrada. O jovem simplesmente o amaldiçoou e seguiu o caminho a pé. Acontece que nessa parte do reino havia poucas fazendas e eram muito distantes umas das outras. Passadas algumas horas, ele se deu conta da falta que lhe fazia o animal. Estava exausto e sedento. Já havia deixado pelo caminho toda a tralha, com exceção das pedras, pois lembrava da recomendação do rei: "Cuide do mais importante!"

Seu passo se tornou curto e lento. As paradas, frequentes e longas. Como sabia que poderia cair a qualquer momento e temendo ser assaltado, escondeu as pedras no salto de sua bota. Mais tarde, caiu exausto no pé da estrada, onde ficou desacordado. Para sua sorte, uma caravana de mercadores que seguia viagem para o seu reino, encontrou-o e cuidou dele.

Ao recobrar os sentidos, encontrou-se de volta em sua cidade. Imediatamente foi ter com o rei para contar o que havia acontecido e, com a maior desfaçatez, colocou toda a culpa do insucesso nas costas do cavalo "fraco e doente" que recebera.

- Porém, majestade, cuidei do mais importante, da forma como me recomendastes, e aqui devolvo as pedras que me confiastes. Não perdi uma sequer.

O rei as recebeu de suas mãos com tristeza e o despediu, mostrando completa frieza diante de seus argumentos. Abatido, o jovem deixou o palácio. Em casa, ao tirar a roupa suja, encontrou na bainha da calça a mensagem do rei, que dizia:

"Ao meu irmão, rei da terra do Norte. O jovem que te envio é candidato a casar com minha filha. Esta jornada é uma prova. Dei a ele alguns diamantes e um bom cavalo. Recomendei que cuidasse do mais importante. Faz-me, portanto, este grande favor e verifique o estado do cavalo. Se o animal estiver forte e viçoso, saberei que o jovem aprecia a fidelidade e força de quem o auxilia na jornada. Se porém, perder o animal e apenas guardar as pedras, não será um bom marido nem rei, pois terá olhos apenas para o tesouro do reino e não dará importância à rainha nem àqueles que o servem".

sábado, 15 de dezembro de 2012

Os Sete Eus


No momento mais silencioso da noite, estando eu deitado semiadormecido, os meus sete eus sentaram-se e assim conversaram, murmurando: 

Primeiro Eu:
“Aqui, neste louco, habitei todos estes anos, sem nada para fazer senão renovar a sua dor de dia e recriar a sua mágoa de noite. Não suporto mais o meu destino e agora rebelo-me.”

Segundo Eu:
“Irmão, o teu destino é melhor do que o meu, pois cabe-me a mim ser o eu feliz deste louco. Rio o seu riso e canto os seus momentos felizes e com pés três vezes alados danço os seus pensamentos mais brilhantes. Sou eu quem se quer revoltar contra a fatigante existência.”

Terceiro Eu:
“E então eu, o dominado pelo amor, a marca flamejante da paixão selvagem e dos desejos fantásticos? Sou eu, o doente de amor, quem se quer revoltar contra este louco.”

Quarto Eu:
“De entre todos vós, sou o mais infeliz, porque nada me foi dado senão ódio abominável e aversão destrutiva. Sou eu, o eu semelhante à tempestade, o que nasceu nas cavernas negras do inferno, quem deveria protestar contra servir este louco.”

Quinto Eu:
“Não, sou eu, o pensador, o eu pleno de fantasias, o eu da fome e da sede, o que está condenado a deambular sem descanso em demanda de coisas desconhecidas e ainda por criar; sou eu, não vós, quem se deveria revoltar.”

Sexto Eu:
“E eu, o que trabalha, o obreiro que inspira piedade, que, com mãos pacientes, e olhos sonhadores, molda o dia em imagens e dá aos elementos novas e eternas formas - sou eu, o solitário, quem se deveria revoltar contra este louco irrequieto.”

Sétimo Eu:
“Que estranho que todos vós vos queirais se revoltar contra este homem, tão-só porque cada um tem um destino predeterminado a realizar. Ah! Pudesse assemelhar-me a um de vós, um eu com um destino determinado! Mas não tenho nenhum, sou o que nada faz, aquele que se senta no nenhures e no nunca mudos e vazios, enquanto vós estais ocupados a recriar a vida. Sois vós ou eu, vizinhos, quem se deveria revoltar?"

Quando o sétimo eu assim falou os outros seis olharam-no com piedade, mas nada proferiram; e à medida que a noite se tornava mais profunda, um após outro foi dormir envolto numa nova e feliz submissão.

Mas o sétimo eu ficou a observar e a mirar o nada por detrás de todas as coisas.

(Khalil Gibran)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A Essência do Zen


Segundo a tradição budista, esta história ocorreu na China, no século VII.

O abade de um grande mosteiro pediu a seus monges que fizessem um poema onde pudessem espelhar a doutrina de Buda. O monge mais antigo, querido e respeitado por todos, assim se expressou:

“O corpo é a árvore Bodhi*,
A mente é como um espelho brilhante
Cuide para mantê-la sempre limpa
Não permitindo que o pó se assente.”


Outro monge simples e quase analfabeto, pediu a um colega letrado para escrever o seu poema:

“O corpo não é a árvore Bodhi
A mente não é como um espelho brilhante
Se não há nada desde o princípio
Onde o pó se assenta?”


O aprofundamento que sugere o poema do iletrado monge reflete a essência dos ensinamentos do Sexto Ancestral da China, o Venerável Mestre Hui-neng e do Zen.

A prática da meditação do Zazen não é para polir o espírito, não é para limpar a mente, não é para esvaziar nada. É tornar-se uno com nossa essência verdadeira, com aquele Eu imenso que contem todos os sentimentos, emoções, percepções, formações mentais, consciência e a forma física.

Retornar à verdade e ao caminho é retornar à vida. Assim falamos em renascer. Deixar morrer idéias abstratas e fantasiosas sobre estar separado do tudo e dos outros e perceber a sabedoria suprema presente em todos os seres, vivenciá-la, tornar-se uno com todos os Budas e Ancestrais do Darma.

Basta perceber que nada é fixo, nada é permanente – isto é o vazio. A mente vazia é aberta e flexível. Chora e ri. Pensa e não pensa. Não precisa ser esvaziada – já é vazia. Sendo vazia é clara e iluminada, em constante atividade e transformação.

Apenas escolha com o que alimentá-la. Você mesma(o) é o programa e o programador, o computador e seus acessórios. Cuide-se bem.
(Recebi tendo como autora a Monja Coen)

*Bodhi = estado desperto, iluminação.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Sinais


Conta-se que, certa vez, um velho árabe analfabeto orava com tanto fervor e com tanto carinho, todas as noites, que o rico chefe de uma grande caravana decidiu chamá-lo à sua presença, perguntando-lhe:
- Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe, quando nem ao menos sabes ler?
O crente fiel respondeu:
- Grande senhor, conheço a existência de Nosso Pai Celeste pelos sinais Dele.
- Como assim? - indagou o chefe, admirado.
O servo humilde continuou:
- Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu?
- Pela letra.
- Quando o senhor recebe uma jóia, como é que se informa quanto ao autor dela?
- Pela marca do ourives.
O empregado sorriu e acrescentou:
- Quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como sabe, depois, se foi um carneiro, um cavalo um boi?
- Pelo rastro - respondeu o chefe, surpreendido.
Então, o velho crente convidou-o para fora da barraca e, mostrando-lhe o céu, onde a lua brilhava, cercada por multidões de estrelas, exclamou, respeitoso:
- Senhor, aqueles sinais, lá em cima, não podem ser dos homens!
Nesse momento, o orgulhoso caravaneiro, com olhos marejados, ajoelhou-se na areia e começou a orar também. 

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A Simplicidade Zen


Ao ver cinco dos seus alunos voltando do mercado de bicicleta, o Mestre Zen decidiu testá-los:
– Por que vocês estão montando as suas bicicletas?
O primeiro estudante respondeu:
– A bicicleta é para levar este saco de batatas. Eu estou contente por não ter precisado carregá-lo em minhas costas!
O professor elogiou o estudante, dizendo:
– Você é um rapaz inteligente. Quando envelhecer, não vai andar curvado, como eu.
O segundo aluno respondeu:
– Adoro ver o campo e as árvores enquanto pedalo no caminho!
O professor elogiou o estudante:
– Significa que seus olhos estão abertos e você vê o mundo.
O terceiro aluno respondeu:
– Eu fico feliz ao montar minha bicicleta, e começo a cantar.
O professor deu louvor ao terceiro aluno, acrescentando:
– Sua mente vai funcionar com a facilidade de uma roda recém-montada.
O quarto estudante do quarto respondeu:
– Andando de bicicleta, eu me sinto em harmonia com todos os seres.
O professor ficou satisfeito e disse:
– Você está andando no caminho de ouro do não-prejudicar.
O quinto aluno respondeu:
– Eu ando de bicicleta para andar de bicicleta.
O professor sentou-se aos pés do quinto aluno e disse:
– Eu sou seu discípulo.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Profundidade Zen


– Quais são os tipos de pessoas que necessitam de aperfeiçoamento pessoal? – perguntou o jovem aspirante ao mestre Zen.
– Pessoas como eu – respondeu o mestre.
O aspirante se surpreendeu:
– Um mestre como o senhor precisa de aperfeiçoamento?
– O aperfeiçoamento – explicou o sábio, – é simples como alimentar-se,  banhar-se ou vestir-se...
– Mas – replicou o praticante – fazemos isto todos os dias! Imaginava que o aperfeiçoamento significasse algo muito mais profundo para um mestre!
– O que achas que faço todos os dias? A cada dia, buscando o aperfeiçoamento, coloco atenção, cuidado e honestidade nas ações comuns do meu cotidiano. Nada é mais profundo do que isto.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Amor Atrai Amor

Tempos atrás, uma moça chinesa se casou e foi viver com o marido e a sogra.

Depois de alguns dias, passou a não se entender com a sogra. As personalidades delas eram muito diferentes e a jovem foi se irritando com os hábitos da mulher mais velha, que frequentemente a criticava.

Meses se passaram e as duas cada vez discutiam e brigavam mais. De acordo com a antiga tradição chinesa, a nora tinha que se curvar à sogra e obedecê-la em tudo.

Já não suportando mais a convivência, decidiu a jovem tomar uma atitude e foi visitar um velho sábio, entendido em ervas, que a ouviu e entregou-lhe um pacote de ervas, dizendo:

 - Você não poderá usá-las de uma só vez para se libertar de sua sogra, porque isso causaria suspeitas. Vou lhe dar várias ervas que irão lentamente envenenando-a. A cada dois dias, ponha um pouco destas ervas na comida dela. Agora, para ter certeza de que ninguém suspeitará de você quando ela morrer, tenha muito cuidado e aja com ela de forma amigável. Não discuta e trate-a o mais amorosamente possível, como se ela fosse a pessoa mais importante da vida para você. Siga minhas instruções e seu problema será resolvido.

Muito contente, a moça voltou apressada para casa para começar o projeto de assassinar a sua sogra.

Semanas se passaram e a cada dois dias, servia a comida "especialmente tratada" à sua sogra. Ela sempre lembrava do que o velho sábio havia recomendado sobre evitar suspeitas e assim, controlou o seu temperamento, obedeceu à sogra e tratou-a como se fosse sua própria mãe.

Depois de seis meses, a casa inteira estava com outro astral. A nora mudou o temperamento e quase nunca se aborrecia. Nesses seis meses não tinha tido nenhuma discussão com a sogra, que agora parecia muito mais amável e mais fácil de lidar.

As atitudes da sogra também mudaram e elas passaram a se tratar como mãe e filha. Finalmente, a jovem foi novamente procurar o velho homem para pedir-lhe ajuda:

- Senhor, por favor me ajude a evitar que o veneno mate minha sogra! Ela se transformou numa mulher agradável e eu a amo como se fosse minha mãe. Estou muito arrependida e não quero que ela morra por causa do veneno que eu lhe dei.

O velho sábio sorriu e acenou com a cabeça.

- Não precisa se preocupar. As ervas que eu dei eram vitaminas para melhorar a saúde dela .O veneno estava na sua mente e na sua atitude, mas foi jogado fora e substituído pelo amor que você passou a dar a ela.

Na China existe uma regra dourada que diz: "A pessoa que ama os outros também será amada."

 

sábado, 17 de novembro de 2012

Duelo de Chá

Certa vez, um mestre da cerimônia do chá, no antigo Japão, ofendeu acidentalmente um soldado, parecendo desdenhá-lo. Ao perceber que havia ofendido o outro, o mestre imediatamente pediu desculpas, mas o soldado, muito impetuoso e cheio de orgulho ferido, exigiu que a questão fosse resolvida em um duelo de espadas.
O mestre de chá, que não tinha absolutamente nenhuma experiência com espadas, pediu o conselho de um mestre Zen, que possuía tal habilidade.
Enquanto era servido de chá pelo amigo, o espadachim Zen não pôde evitar notar como o mestre de chá executava sua arte com perfeita concentração e tranquilidade.
"Amanhã," disse o mestre Zen, "quando você duelar com o soldado, segure sua arma sobre sua cabeça como se estivesse pronto para desferir um golpe, e encare-o com a mesma concentração e tranquilidade com que você executa a cerimônia do chá".
No dia seguinte, na exata hora e local escolhidos para o duelo, o mestre de chá seguiu o conselho do mestre Zen. O soldado, já pronto para atacar, olhou por muito tempo em silêncio para a face totalmente atenta porém suavemente calma do mestre de chá. E então, finalmente o soldado abaixou sua espada, desculpou-se por sua arrogância, e partiu sem desferir um único golpe no mestre de chá.

domingo, 28 de outubro de 2012

Não Apresse o Rio

A ansiedade, a pressa, a agitação travam e impedem nosso crescimento interno. O amadurecimento interior exige calma. Poucas pessoas hoje dedicam uma parcela do seu dia para tentar olhar para si mesmas com tranquilidade. Por isso os plácidos, os serenos e os iluminados são tão raros. Queremos tudo rápido, não temos tempo a perder. E nem nos damos conta na tremenda imaturidade de tudo isto. Na nossa tremenda ânsia, não queremos viver o processo, queremos chegar aos resultados. A pressa é contrária ao movimento da alma. A alma diz: "Não apresse o rio; ele contorna seus próprios obstáculos no tempo certo - o tempo do espírito".
Este conto define bem este processo:

Certa vez, um discípulo ansioso por obter rapidamente a autorrealização, foi ao seu mestre e pediu fervorosamente:
- Eu estou ansioso para entender seus ensinamentos e atingir a Iluminação! Quanto tempo vai demorar para eu obter esse prêmio e dominar o conhecimento que leva à libertação?
O mestre olhou para ele e calmamente respondeu:
- Uns dez anos...
Impaciente, sem acreditar no que tinha ouvido, o estudante completou:

- Mas eu quero entender todos os segredos mais rápido do que isto! Dez anos é muito tempo! Vou praticar todos os dias, estudar e decorar todos os sutras! Por favor responda-me: caso eu trabalhe duro dez ou mais horas por dia, em quanto tempo chegarei ao objetivo?
O mestre pensou um pouco e disse suavemente:
- Vinte anos.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O Velho que Perdeu sua Verruga

"Em todo adulto espreita uma criança - uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa." (Carl Gustav Jung)

Este é um conto japonês que fala da reconquista da alegria, da pureza, da alma infantil. A verruga simboliza tudo aquilo que perdemos com a vida adulta: a leveza, a inocência, o espírito lúdico, etc. Ao encontrar os gnomos, o homem reencontrou sua criança interior, fazendo-o esquecer seus medos, suas reservas, sua feiúra. Entregando-se à dança e brincando com alegria, ele liberou seus aspectos feios, que desprenderam-se dele e o reintegraram à sua essência. Isto é reencontrar a criança interna: deixar, nem que seja por alguns momentos, sempre que possível, que o corpo fale, livre de condicionamentos e de medos. Este exercício precisar ser adotado para resgatarmos nossas almas.

Em tempos que já vão longe, num vilarejo que já não existe, morava um velhinho com sua mulher, perto de uma floresta. Na juventude ele fora um belo rapaz, mas à medida que envelhecia, uma verruga foi crescendo no seu rosto, deixando-o um velho cada vez mais feio. Chateado e envergonhado da sua nova aparência, ele recorreu a médicos e magos e experimentou pós e poções de todo tipo, mas nada adiantou. Ele então resignou‑se e passou a viver mais isolado, para que não rissem dele.

Um dia, ao procurar lenha para o fogo na floresta, caiu uma tempestade, obrigando-o a procurar abrigo numa árvore oca. Trovões sacudiam as montanhas e raios cintilavam ao seu redor; ele, porém, estava seco e seguro. Depois de algum tempo, a tempestade amainou e ele escutou vozes à distância. Pensou que seus vizinhos tinham vindo à sua procura, mas quase desmaiou de susto ao ver um grupo de gnomos se aproximando!

Ele nunca havia visto um gnomo e ficou tremendo de medo, escondido dentro da árvore. Os gnomos chegaram e um deles – que parecia ser o chefe ‑ dirigiu‑se aos outros, dizendo com um gesto: “Vamos dar uma festa aqui”. E acomodou‑se de costas para o velho, na frente da árvore oca.

Imóvel e silencioso, o velho viu os gnomos organizarem rapidamente um piquenique, todos cantando. Em seguida, ao som de uma música irresistivelmente animada, começaram a dançar, e ele mal pôde conter o riso: eram desajeitados e deselegantes, dando coices para todo lado e caindo. Foi então que o chefe ordenou que parassem: “Vocês são ruins demais”, disse, lastimando-se. “Não existe ninguém aqui que saiba dançar bem?”

“Eu bem que poderia ensinar-lhes alguns passos”, pensou o velho, que sabia dançar muito bem, embora há tempo não dançasse. O gnomo-chefe tornou a perguntar se alguém sabia dançar e o velho começou a ficar dividido entre o amor pela dança e o medo dos gnomos. O chefe repetiu a pergunta uma terceira vez e aí o velho não resistiu; mandou seus receios às favas, saiu da árvore e curvou‑se perante o chefe dos gnomos, dizendo: “Eu sei dançar, meu senhor”, e fez uma demonstração.

No início, os gnomos ficaram escandalizados, sem querer aceitar um humano como professor. No entanto, a arte do velho os cativou rapidamente, deixando-os realmente admirados. Começaram a marcar o ritmo, acompanhando a música, enquanto outros, contagiados com a bela dança, juntaram-se ao velho. Este, por sua vez, pôs toda sua alma e todo seu coração na dança; esqueceu o medo e entregou-se à música e aos movimentos, divertindo-se entre os gnomos como se fosse um deles. Quando parou, o gnomo-chefe o aplaudiu e convidou‑o a sentar-se ao seu lado, oferecendo‑lhe um copo de vinho. “Você precisa voltar amanhã para dançar de novo para nós”, disse. “Gostaria muito de vir”, respondeu o velho. Porém, um dos conselheiros pediu a palavra e lembrou: “Não se pode confiar nos homens. Precisamos ficar com algo que nos dê certeza de que ele vai voltar”.

Vendo que o velho nada trazia de valor consigo, o chefe decidiu assim: “Bem, já que não trazes nada que possas deixar conosco, vou ficar com isto como penhor!” E, estendendo a mão, agarrou a verruga do velho e arrancou-a com a facilidade de quem arranca uma fruta madura do pé. “Trate de voltar amanhã!”, ordenou, e todos os gnomos desapareceram.

O velho mal podia acreditar no que acontecera. Passou a mão pelo rosto e percebeu que estava liso, o seu rosto antigo sem a verruga horrenda! Ficou tão feliz, que foi para casa pulando, cantando e dançando durante todo o trajeto. A esposa, ao vê‑lo livre da verruga, mostrou‑se eufórica e ambos celebraram sua boa sorte.

Ocorre que o velho tinha um vizinho malvado e vaidoso que também tinha uma verruga e que nunca se cansara de procurar um tratamento para ela. Quando soube da celebração, foi espiar e ficou perplexo ao ver que a verruga do outro havia sumido. Ao saber da história, armou um plano e correu para encontrar os gnomos no dia seguinte, passando-se pelo seu vizinho.

“Onde está o velho que ia dançar para nós?” perguntou o chefe dos gnomos, ao chegar. O velho invejoso rastejou para fora da árvore e começou a dançar. Como nunca havia aprendido a dançar, porque considerava a dança uma atividade sem interesse, ele apenas pulava de um lado para outro, agitando os braços. “Mas que coisa horrível!”, exclamou o gnomo! “Você não está dançando como ontem!” (Para os gnomos todos os humanos são iguais, por isso eles não notaram a diferença entre os dois velhos). “Não dá para aguentar!”. Dizendo isto, o chefe vasculhou o bolso e encontrou a verruga. Atirou-a no rosto do invejoso, gritando: “Devolvo‑lhe o penhor!”.

A verruga grudou no rosto do homem, ao mesmo tempo em que os gnomos desapareceram.

Em pânico, o homem vaidoso apalpou o rosto e constatou que agora tinha duas verrugas, uma em cada face! Voltou arrasado para casa e, daquele dia em diante, ninguém mais viu sua cara, porque ele passou a usar um chapéu de abas bem largas, enfiado na cabeça.

Quanto ao velho que perdeu sua verruga, ele viveu ainda muito tempo e dançava quando se sentia feliz (o que, na verdade, acontecia quase sempre!).

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Riqueza e o Conhecimento

Saraswati
Era uma vez, num reino distante, um jovem que entrou numa floresta e disse ao seu mestre espiritual:

- Quero possuir riqueza ilimitada para poder ajudar o mundo. Por favor, conte-me, qual é o segredo para se gerar abundância?

O mestre espiritual respondeu:

- Existem duas deusas que moram no coração dos seres humanos. Todos são profundamente apaixonados por essas entidades supremas. Mas elas estão envoltas num segredo que precisa ser revelado, e eu lhe contarei qual é. Com um sorriso, ele prosseguiu:

- Embora você ame as duas deusas, deve dedicar maior atenção a uma delas, a deusa do Conhecimento, cujo nome é Sarasvati. Persiga-a, ame-a, dedique-se a ela. A outra deusa, chamada Lakshmi, é a da Riqueza. Quando você dá mais atenção a Sarasvati, Lakshmi, extremamente enciumada, faz de tudo para receber o seu afeto. Assim, quanto mais você busca a deusa do Conhecimento, mais a deusa da Riqueza quer se entregar a você. Ela o seguirá para onde for e jamais o abandonará. E a riqueza que você deseja será sua para sempre.
 
Lakshmi
Existe poder no conhecimento, no desejo e no espírito. E esse poder que habita em você é a chave para a criação da prosperidade.
E lembre-se que o verdadeiro conhecimento não é o livresco, intelectual; o verdadeiro e legítimo conhecimento é aquele que nos torna mais próximos de nós mesmos.
(Conto Hindu)

sábado, 22 de setembro de 2012

Os Animais Internos


Um ermitão, uma destas pessoas que se refugiam na solidão do deserto, do bosque ou das montanhas para dedicar-se somente à oração e à penitência, muitas vezes reclamava que tinha muito que fazer. Perguntaram-lhe como era possível que em sua solidão tivesse tanto trabalho.
- Tenho que domar dois falcões, treinar duas águias, manter quietos dois coelhos, vigiar uma serpente, carregar um asno e sujeitar um leão.
- Não vemos nenhum animal perto do local onde vives. Onde estão estes animais?
O ermitão explicou:
- Estes animais todos os homens têm, vocês também... Os dois falcões se lançam sobre tudo o que aparece, seja bom ou mau; tenho que domá-los para que só fixem sobre uma boa presa: são meus olhos. As duas águias ferem e destroçam com suas garras; tenho que treiná-las para que sejam úteis e ajudem sem ferir: são minhas mãos. Os dois coelhos querem ir onde lhes apraz, fugindo dos demais e esquivando-se das dificuldades; tenho que ensinar-lhes a ficarem quietos mesmo que seja penoso, problemático ou desagradável: são meus pés. O mais difícil é vigiar a serpente porque, apesar de estar presa numa jaula de 32 barras, está sempre pronta para morder e envenenar os que a rodeiam, mal se abre a jaula; se não a vigio de perto, causa danos: é minha língua. O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas obrigações; alega estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia: é meu corpo. Finalmente, preciso domar o leão; quer ser o rei, o mais importante; é vaidoso e orgulhoso: é meu coração. Portanto, há muito que fazer....

 ... cuidem bem de seus "animais".

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Seja Como o Lápis

- Vovó, você está escrevendo algo sobre mim?
 A avó sorriu e disse à netinha:
- Sim, estou escrevendo algo sobre você. Entretanto, mais importante do que as palavras que estou escrevendo, é este lápis que estou usando. Espero que você seja como ele, quando crescer.
A menina olhou para o lápis e, não vendo nele nada de especial, intrigada, comentou:
- Mas este lápis é igual a todos os que já vi. O que ele tem de tão especial?
- Bem, depende do modo como você olha. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir vivê-las, será uma pessoa de bem e em paz com o mundo – respondeu a avó.
Primeira qualidade: Assim como o lápis, você pode fazer coisas grandiosas, mas nunca se esqueça que existe uma “mão” que guia os seus passos, e que sem ela o lápis não tem qualquer utilidade: a Mão de Deus.

Segunda qualidade: Assim como o lápis, de vez em quando você vai ter que parar o que está escrevendo, e usar um “apontador”. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas ao final, ele se torna mais afiado. Portanto, saiba suportar as adversidades da vida, porque elas farão de você uma pessoa mais forte e melhor.
Terceira qualidade: Assim como o lápis, permita que se apague o que está errado.  Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos trazer de volta ao caminho certo.
Quarta qualidade: Assim como no lápis, o que realmente importa não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro dele. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você. O seu caráter será sempre mais importante do que a sua aparência.
Quinta qualidade: Ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida deixará traços e marcas nas vidas das pessoas... podem ser marcas profundas de sofrimento ou marcas de alegria.
Procure ser consciente de cada ação, deixando um legado que marque positivamente a vida das pessoas. Nas falhas, procure a reparação e o perdão de quem você tenha magoado.

domingo, 19 de agosto de 2012

A Felicidade Escondida

Um dia, no princípio dos tempos, alguns demônios se reuniram para fazer uma diabrura. Um deles disse:

Estava pensando em fazer uma maldade com os humanos… poderíamos tirar algo deles, porém... o quê?”

Depois de muito pensar, um deles respondeu:

Já sei! Poderíamos tirar-lhes a felicidade! O problema será onde escondê-la, para que não possam encontrá-la.”

Sugeriu o primeiro demônio:

"Vamos escondê-la em cima do monte mais alto do mundo...!

Mas o outro imediatamente discordou:

o, lembre-se que eles têm força e vontade. Algum dia, alguém poderia subir e encontrá-la, e se um a encontra, pronto: todos saberão onde está!".

Logo, outro demônio propôs:

"Então, vamos escondê-la no fundo do mar!”.

E outro contestou:

"Não vai dar certo! Eles têm curiosidade. Algum dia, alguém construirá algum aparato para poder baixar até o fundo e, então, a encontrará".

Um outro deles disse:

"Nesse caso, poderemos escondê-la em um planeta longe da Terra!".

Disseram-lhe:

"Não! Lembre-se que eles têm inteligência. Um dia, alguém construirá uma nave para viajar a outros planetas e, então, a descobrirão".

Um dos demônios havia permanecido em silêncio, escutando atentamente as propostas, analizando e pensando... Até que resolveu falar:

"Creio saber onde devemos colocá-la para que jamais a encontrem".

Surpresos, todos perguntaram ao mesmo tempo:

Onde?".

“Vamos escondê-la dentro deles mesmos... Estarão tão ocupados buscando-a fora que nunca a encontrarão."

Todos concordaram unanimemente e, desde então, sempre tem sido assim:

“O SER HUMANO PASSA A VIDA BUSCANDO A FELICIDADE FORA DE SI MESMO, SEM SABER QUE A LEVA CONSIGO!”.