quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Chinesa e o Vaso Rachado

Uma velha senhora chinesa tinha dois grandes vasos, cada um suspenso na
extremidade de uma vara que ela carregava nas costas.
Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito. Todos os dias ela ia
ao rio buscar água, e ao fim da longa caminhada do rio até casa o vaso
perfeito chegava sempre cheio de água, enquanto o rachado chegava meio vazio.

Durante muito tempo a coisa foi andando assim, com a senhora voltando para casa somente com um vaso e meio de água.
Naturalmente o vaso perfeito tinha muito orgulho do seu próprio resultado - e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito,  de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.
Ao fim de dois anos, refletindo sobre a sua própria amarga derrota de ser rachado, durante o caminho para o rio o vaso rachado disse à velha :
'Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até à sua casa ...'
A velhinha sorriu :

'Reparaste que lindas flores há no teu lado do caminhosomente no teu lado do caminho ? Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todos os dias, enquanto voltávamos do rio, tu as regava. Foi assim que durante dois anos pude apanhar belas flores para enfeitar a mesa e alegrar o meu jantar. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa !'


Cada um de nós tem o seu defeito próprio : mas é o defeito que cada um de nós tem que faz com que nossa convivência seja interessante e gratificante. É preciso aceitar cada um pelo que é... e descobrir o que há de bom nele! 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Uma Fábula Sobre a Fábula

Esta lenda árabe recontada por Malba Tahan revela o maravilhoso poder da fábula. O que as fábulas (e os contos) querem mostrar? A verdade. Mas a verdade não pode aparecer nua, como ela é... se aparece assim, não é aceita. Há que ter uma roupagem própria. Essa roupagem é a fábula, uma forma poética e leve de dizer a verdade. Daí sua grande importância!

Allahur Akbar! Allahur Akbar! (Deus é grande! Deus é grande!)
Quando Deus criou a mulher criou também a fantasia. Um dia a Verdade resolveu visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid.
Envolta em lindas formas num véu claro e transparente, foi ela bater à porta do rico palácio em que vivia o glorioso senhor das terras mulçumanas. Ao ver aquela formosa mulher, quase nua, o chefe dos guardas perguntou-lhe:
- Quem és?
- Sou A Verdade! - respondeu ela, com voz firme. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o sultão Harun Al-Raschid, o Sheik do Islã!
 O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, apressou-se em levar a nova ao Grão-Vizir:
- Senhor, - disse, inclinando-se humilde, - uma mulher desconhecida, quase nua, quer falar ao nosso soberano, o Sultão Harun Al-Raschid, Príncipe dos Crentes.
- Como se chama?
- Chama-se A Verdade!
- A Verdade! - exclamou o Grão-Vizir, subitamente assaltado de grande espanto. - A Verdade quer penetrar neste palácio! Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se A Verdade aqui entrasse? A perdição, a desgraça nossa! Dize-lhe que uma mulher nua, despudorada, não entra aqui!
Voltou o chefe dos guardas com o recado do grão-vizir e disse à Verdade:
- Não podes entrar, minha filha. A tua nudez iria ofender o nosso Califa. Com esses ares impúdicos não poderás ir à presença do Príncipe dos Crentes, o nosso glorioso sultão Harun Al-Raschid. Volta, pois, pelos caminhos de Allah!
Vendo que não conseguiria realizar o seu intento, ficou muito triste A Verdade, e afastou-se lentamente do grande palácio do magnânimo sultão Harun Al-Raschid, cujas portas se lhe fecharam à diáfana formosura!
Mas...
Allahur Akbar! Allahur Akbar!
Quando Deus criou a mulher, criou também A Obstinação. E A Verdade continuou a alimentar o propósito de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o sultão Harun Al-Raschid...
Cobriu as peregrinas formas de um couro grosseiro como os que usam os pastores e foi novamente bater à porta do suntuoso palácio em que vivia o glorioso senhor das terras mulçumanas.
Ao ver aquela formosa mulher grosseiramente vestida com peles, o chefe dos guardas perguntou-lhe:
- Quem és?
- Sou A Acusação! - respondeu ela, em tom severo. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o Sultão Harun Al-Raschid, Comendador dos Crentes!
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu a entender-se como o Grão-Vizir.
- Senhor - disse, inclinando-se humilde, - uma mulher desconhecida, o corpo envolto em grosseiras peles, deseja falar ao nosso soberano, o Sultão Harun Al-Raschid.
 - Como se chama?
 - A Acusação!
 - A Acusação?
- repetiu o grão-vizir, aterrorizado. - A Acusação quer entrar nesse palácio? Não! Nunca! Que seria de mim, que seria de todos nós, se A Acusação aqui entrasse! A perdição, a desgraça nossa! Dize-lhe que não, que não pode entrar! Dize-lhe que uma mulher, sob as vestes grosseiras de um zagal, não pode falar ao Califa, nosso amo e senhor!
Voltou o chefe dos guardas e disse à Verdade:
- Não podes entrar, minha filha. Com essas vestes grosseiras, próprias de um beduíno rude e pobre, não poderás falar ao nosso amo e senhor, o Sultão Harun Al-Raschid. Volta, pois, em paz, pelos caminhos de Allah!
Vendo quem não conseguiria realizar o seu intento, ficou ainda mais triste A Verdade e afastou-se vagarosamente do grande palácio do poderoso Harun Al-Raschid, cuja cúpula cintilava aos últimos clarões do sol poente.
Mas...
Allahur Akbar! Allahur Akbar!
Quando Deus criou a mulher, criou também O Capricho.
E A Verdade entrou-se do vivo desejo de visitar um grande palácio. E havia de ser o próprio palácio em que morava o Sultão Harun Al-Raschid.
Vestiu-se com ríquissimos trajos, cobriu-se com jóias e adornos, envolveu o rosto em um manto diáfano de seda e foi bater à porta do palácio em que vivia o glorioso Senhor dos Árabes.
Ao ver aquela encantadora mulher, linda como a quarta lua do mês de Ramadã, o chefe dos guardas perguntou-lhe:
- Quem és?
- Sou a Fábula
- respondeu ela, em tom meigo e mavioso. - Quero falar ao vosso amo e senhor, o generoso Sultão Harun Al-Raschid, Emir dos Árabes!
O chefe dos guardas, zeloso da segurança do palácio, correu, radiante, a falar com o Grão-Vizir:
- Senhor, - disse, inclinando-se, humilde - uma linda e encantadora mulher, vestida como uma princesa, solicita audiância de nosso amo e senhor, o Sultão Harun Al-Raschid, Emir dos Crentes.
- Como se chama?
- Chama-se A Fábula!
- A Fábula!
- exclamou o Grão-Vizir, cheio de alegria. - A Fábula quer entrar neste palácio! Allah seja louvado! Que entre! Benvinda seja a encantadora Fábula: Cem formosas escravas irão recebê-la com flores e perfumes! Quero que A Fábula tenha, neste palácio, o acolhimento digno de uma verdadeira rainha!
E abertas de par em par as portas do grande palácio de Bagdá, a formosa peregrina entrou.
E foi assim, sob o aspecto de Fábula, que A Verdade conseguiu aparecer ao poderoso califa de Bagdá, o Sultão Harun Al-Raschid, Vigário de Allah e Senhor do grande império mulçumano!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A Cenoura, o Ovo e o Pó de Café

A equanimidade da mente pode ser atingida? Os mestres de todos os tempos dizem que sim. É quando o ser já compreendeu que a vida é feita de bons momentos e de adversidades e deixa que as cenas externas se sucedam sem que perturbem de forma significativa a sua harmonia, o seu humor. Ele sabe que, além dessas cenas do universo manifestado, está o Imanifesto imperturbável. Os grandes mestres aprenderam a ver que as ondas ficam na superfície; na profundidade do lago está a essência, a paz. 

A filha queixou-se ao pai sobre sua vida, relatando suas dificuldades e tristezas.
Estava cansada de lutar e combater. Parecia que assim que um problema estava resolvido um outro surgia.
O pai escutou calado e em seguida convidou-a para ir com ele à cozinha.
Chegando lá, encheu três panelas com água e colocou cada uma delas em fogo alto. Logo a água das panelas começou a ferver. Numa ele colocou cenouras, noutra colocou ovos e, na última, pó de café. Deixou que tudo fervesse, sem dizer uma palavra. 
Cerca de vinte minutos depois, ele desligou o fogo. Retirou as cenouras e colocou-as num prato. Retirou os ovos e colocou-os noutro prato. E despejou o café numa xícara.
Feito isto, virou-se para a filha e perguntou: 
- O que você está vendo?
- Cenouras, ovos e café – ela respondeu.
O pai pediu-lhe para experimentar as cenouras. Ela obedeceu e notou que as cenouras estavam macias. Então, pediu-lhe que pegasse um ovo e o quebrasse. Ela obedeceu e depois de retirar a casca verificou que o ovo endurecera com a fervura. Finalmente, ele  pediu-lhe para tomar um gole do café. Ela sorriu ao provar seu aroma delicioso e perguntou: 
– O que tudo isto significa?
- Observe que as cenouras, o ovo e o café enfrentaram a mesma adversidade (a água fervendo), mas cada um reagiu de maneira diferente. A cenoura, antes rígida, amoleceu e tornou-se frágil. Os ovos, antes frágeis, tornaram-se rijos. E o pó de café reagiu de forma incomparável. Ao ser colocado na água fervente, ele mudou a água. Assim, quando a adversidade bate à nossa porta, como devemos responder? Como uma cenoura, um ovo ou um pó de café? 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Impermanência

Somos hóspedes do mundo. Não somos donos de nada e, no final, todos os castelos se transformam em ruínas. 

Um famoso mestre espiritual aproximou-se do portal principal do palácio do rei. Solenemente sentado em seu trono, o monarca perguntou:
- O que vós desejais?
- Eu gostaria de um lugar para dormir, aqui nesta hospedaria - replicou o mestre.
- Mas aqui não é uma hospedaria, bom homem - disse o rei, divertido - Este é o meu palácio.
- Posso lhe perguntar a quem pertenceu este palácio antes de vós?
- Pertenceu a meu pai, que já não vive.
- E a quem pertenceu antes dele?
- A meu avô - disse o rei, já bastante intrigado - mas ele também está morto.
- Sendo este um lugar onde pessoas vivem por um curto espaço de tempo e então partem - vós me dizeis que tal lugar não é uma hospedaria?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Sabedoria Indígena

Há um pequeno conto que vale a pena ser divulgado. Este conto foi publicado no livro Maktub, de Paulo Coelho:

Um explorador branco, ansioso para chegar logo ao seu destino no coração da África, pagava um salário extra para que os seus carregadores índios andassem mais rápido.
Durante vários dias, os carregadores apressaram o passo. Certa tarde, porém, todos sentaram-se no chão e depositaram seus fardos, recusando-se a continuar. Por mais dinheiro que lhes fosse oferecido, os índios não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pediu uma razão para aquele comportamento, obteve a seguinte resposta:
- Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora precisamos esperar até que nossas almas nos alcancem.

Quanta sabedoria expressa com tanta simplicidade! Este conto revela exatamente como nossa civilização contemporânea vive. Estamos sempre com pressa, sempre correndo, sempre agitados. E por estarmos com pressa, não temos tempo de pensar, de refletir, de aprofundar o que estamos fazendo de verdade. Nossas almas ficaram para trás e nem notamos...

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A Casa dos Mil Espelhos

(Conto Zen)

Este conto é maravilhoso. Com poucas palavras, diz tanto! O mundo é como a casa dos mil espelhos. Ele reflete o que nós somos. Sai Baba diz: "A bem-aventurança está dentro de você, mas você está imaginando que ela está fora. O que está fora é apenas o reflexo, a reação e a ressonância do que está dentro de você."

Há algum tempo atrás existia, numa distante e pequena vila, um lugar conhecido como A Casa dos Mil Espelhos.
Certo dia, um pequeno e feliz cãozinho soube deste lugar e decidiu visitar.
Quando lá chegou, saltitou feliz escada acima até a entrada da casa. Olhou através da porta de entrada com suas orelhinhas bem levantadas e abanando a sua cauda, tão rapidamente quanto podia.
Para sua grande surpresa, deparou-se com outros mil pequenos e felizes cãezinhos, todos a abanarem as suas caudas, tão rapidamente quanto a dele.
Nesse momento, deu um enorme sorriso e foi correspondido com mil sorrisos enormes. Quando saiu da casa pensou: 'Que lugar maravilhoso! Voltarei sempre, um milhão de vezes'.
Na mesma vila havia outro pequeno cãozinho, não tão feliz quanto o primeiro, que decidiu também visitar a casa.
Subiu lentamente as escadas e espreitou através da porta.
Quando viu mil cães a olhá-lo fixamente, rosnou e mostrou os dentes e ficou assustado ao ver mil cães a rosnar-lhe e a mostrar-lhe os dentes.
Saiu a correr e pensou: "Que lugar horrível, nunca mais volto aqui!"

Todos os rostos no mundo são espelhos.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

O Almiscareiro do Himalaia

(por Paramahansa Yogananda)

O almíscar é uma substância valiosa, extremamente aromática, contida em uma bolsa sob a pele do abdômen do almiscareiro macho, que habita os elevados picos do Himalaia.

Quando o almiscareiro alcança certa idade, o odor penetrante do almíscar começa a exalar dessa bolsa. O almiscareiro, então, fica excitado com o aroma delicioso e passa a pular para lá e para cá, farejando sob as árvores e furnas, buscando em toda parte - às vezes por muitas semanas - a fonte da persistente fragrância.

Incapaz de localizar o perfume tantalizante, ele se torna extremamente inquieto e, em seguida, irritado. Em sua agitação e num esforço último e desesperado de encontrar a fonte da essência enlouquecedora, sabe-se de casos em que o almiscareiro acaba saltando dos altos picos alcantilados e caindo para a morte no vale que se estende abaixo. Os caçadores, assim, achando os cadáveres, cortam a almejada bolsa de almíscar.

Um bardo iluminado cantou certa vez: "Ó tolo almiscareiro... Buscaste a fragrância em toda parte, exceto em teu próprio corpo. Eis porque não a encontraste. Se pelo menos tivesses voltado tua busca para ti mesmo, terias encontrado o almíscar almejado e terias salvo a ti mesmo da morte sobre as rochas abaixo das montanhas."

A maior parte das pessoas comporta-se como o almiscareiro. Buscam a felicidade elusiva, sempre fragrante, por toda parte, fora delas próprias: nos divertimentos, nas tentações, no amor humano e nos caminhos escorregadios da riqueza e da fama. E quando, finalmente, não podem achar a verdadeira felicidade, cuja fonte jaz oculta nos recônditos secretos de suas próprias almas, pulam dos picos alcantilados das esperanças elevadas e despedaçam-se nas pedras da desilusão.

Ó tolo almiscareiro humano... Se pelo menos voltasses tua mente para dentro, na meditação diária profunda, acharias a fonte de toda verdadeira e duradoura felicidade no silêncio mais recôndito de tua própria alma.

Bem-amado que estás à procura da felicidade: não sejas como o almiscareiro, perecendo na vã busca exterior. Desperta! E, na caverna da meditação profunda, encontra a felicidade eterna dentro de teu imortal Ser.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Ser Discípulo

Quando o grande místico sufi Hasan estava morrendo, alguém lhe perguntou:
- Hasan, quem foi seu mestre?
Ele respondeu:
- Tive milhares deles. Se apenas enumerasse seus nomes, levaria meses, anos, e agora é tarde demais. Mas certamente lhe contarei sobre três Mestres.

Um deles foi um ladrão.
Uma vez me perdi no deserto, e quando cheguei a uma aldeia já era muito tarde, tudo estava fechado. Mas finalmente encontrei um homem, que tentava fazer um buraco na parede de uma casa.
Perguntei-lhe onde poderia ficar, e ele respondeu:
- A esta hora da noite será difícil, mas pode ficar comigo se for capaz de ficar com um ladrão!

E o homem era tão harmonioso - fiquei por um mês! E toda noite ele dizia:
- Estou indo agora a meu trabalho. Vá descansar e rezar.
E quando ele voltava, eu lhe perguntava:
- Conseguiu algo? - e ele respondia:
- Esta noite não. Mas amanhã tentarei novamente, e se Deus quiser...
Ele nunca se desesperava, e estava sempre feliz.

Quando eu meditava e meditava por anos a fio,
e nada me acontecia, muitas vezes havia momentos
em que ficava tão desesperado, tão sem esperanças, que pensava em parar com toda aquela bobagem. E de repente me lembrava do ladrão que toda noite dizia: “Se Deus quiser, amanhã vai acontecer”.

E meu segundo mestre foi um cachorro.
Eu me dirigia a um rio, sedento, e um cachorro apareceu, também com sede. Olhou para o rio, vendo lá outro cachorro - sua própria imagem - e ficou com medo.
Ele latia e se afastava correndo, mas sua sede era tamanha que acabava voltando.

Finalmente, apesar do medo, simplesmente pulou na água, e a imagem desapareceu.
E eu sabia que aquela era uma mensagem de Deus para mim:
“Devemos dar o salto, apesar de nossos receios.”

E o terceiro Mestre foi uma pequena criança.

Cheguei numa cidade, e uma criança estava carregando uma vela acesa. Ela se dirigia à mesquita, para lá depositar a vela. Apenas por brincadeira, perguntei ao menino :
Você mesmo acendeu a vela?
Ele respondeu:
- Sim, senhor.

E continuei:
- Houve um momento em que a vela esteve apagada,
depois houve outro em que ela se acendeu. Você pode me mostrar a fonte da qual a luz veio?
E o menino riu, assoprou a vela, e disse:
- Agora você viu a luz se indo. Para onde ela foi? Diga-me!

Meu ego e todo o meu conhecimento ficaram despedaçados.
E naquele momento senti minha própria estupidez.
Desde então abandonei toda a minha erudição.

É verdade que não tive Mestre. Mas isso não significa que não fui discípulo - aceitei toda a existência como minha Mestra.
Confiei nas nuvens, nas árvores... na existência como tal.
Não tive Mestre porque tive milhares deles - aprendi de todas as fontes possíveis.

Ser discípulo é uma necessidade absoluta no caminho.
O que significa ser discípulo?
Significa ser capaz de aprender, estar disposto a aprender, ser vulnerável à existência.
Com um Mestre você começa aprendendo a aprender... e muito lentamente você entra em sintonia e percebe que, da mesma maneira, pode entrar em sintonia com toda a existência.

O Mestre é uma piscina onde você pode aprender a nadar. E quando aprende, todos os oceanos são seus...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Qual o Melhor Serviço?

Sai Baba servindo
"Qual é o melhor serviço" é uma dúvida que muitos têm. Algumas pessoas ficam esperando aparecer algo grandioso para poder se sentir servindo. E enquanto esse algo grandioso não aparece, ficam sem fazer nada... 
Tudo é serviço. Quando o buscador se oferece como cocriador do Plano Divino, torna-se um servidor até mesmo quando está - aparentemente - sem fazer nada. Porque há várias formas de se ficar sem fazer nada. Pode-se dar asas à imaginação e ficar ruminando coisas que já passaram ou coisas que virão, por exemplo. E pode-se utilizar a imaginação criativa para estar sempre alerta, vigiando os pensamentos e produzindo mentalizações positivas!
O que importa, no fundo, não é o que se está fazendo - é como se está fazendo. A mais simples das tarefas pode ser enfadonha ou repetitiva e pode ser transformada em meditação . O que muda é a atitude de quem a faz.
A vida é inteligente e vai nos colocando situações com as quais precisamos lidar. Não adianta se revoltar com as situações. Quanto mais nos revoltamos, mais situações parecidas aparecem. O buscador inteligente é aquele que sabe transformar as situações simples do cotidiano em algo grandioso. Se no momento a tarefa é simples como lavar um prato, ele estará presente ali, fazendo o melhor que pode. Isto é serviço.
Sathya Sai Baba nos brinda com esta pérola de conto:

Havia um rei que perguntava aos sábios e eruditos que chegavam à sua corte: “Qual é o melhor serviço e qual é o melhor momento para fazê-lo?” Durante muito tempo não pôde obter nenhuma resposta satisfatória.

Um dia, enquanto perseguia as forças de um rei rival, se viu separado de suas tropas, na espessa floresta; cavalgou um bom tempo, cansado e faminto, até que chegou a uma capela. Ali havia um velho monge que o recebeu bondosamente e lhe ofereceu uma vasilha com água fresca. Depois de um breve descanso, o rei formulou ao anfitrião a pergunta que o atormentava: “Qual é o melhor serviço?” O eremita disse: “Dar a um homem sedento uma vasilha com água”. “E qual é o melhor momento para fazê-lo?” A resposta foi: “Quando ele vem de longe e sozinho buscando algum lugar para obtê-la”.

O ato de serviço não deve ser julgado pelo seu custo ou por sua publicidade; pode ser apenas o oferecimento de um pouco d’água no interior de uma floresta.

A NECESSIDADE DE QUEM RECEBE, A ATITUDE DE QUEM OFERECE – É ISTO QUE DECIDE SE A AÇÃO É DE OURO OU DE CHUMBO.

(Sathya Sai Baba – extraído do Eterno Condutor, setembro de 1990)