quinta-feira, 29 de março de 2012

O Cesto e a Água

Deveríamos nos inquietar por não conseguirmos memorizar todos os bons ensinamentos?
Este conto nos mostra, com maestria, que não.
Sentir é mais importante do que memorizar.  

Num velho mosteiro chinês, o discípulo acerca-se do mestre e pergunta:
– Por que devemos ler, estudar, considerar e refletir sobre a sabedoria se nós não conseguimos memorizar tudo e, com o tempo, acabamos esquecendo? Somos obrigados, constantemente, a retomar o que já não está mais em nossas memórias.
O mestre ficou uns instantes em silêncio, fitando o horizonte e depois ordenou ao discípulo:
– Pegue aquele cesto de junco, desça até o riacho, encha o cesto de água e o traga até aqui.
O discípulo olhou para o cesto sujo e achou muito estranha a ordem do mestre, mas mesmo assim obedeceu.
Pegou o cesto, desceu os cem degraus da escadaria do mosteiro até o riacho, encheu o cesto de água e começou a subir de volta. Como o cesto era todo cheio de furos, a água foi escorrendo e quando chegou até o mestre já não restava mais nada.
O mestre perguntou-lhe:
– Então, meu filho, o que você aprendeu?
O discípulo olhou para o cesto vazio e disse jocosamente:
– Aprendi que cesto de junco não segura água.
O mestre ordenou-lhe que repetisse o mesmo processo.
Quando o discípulo retornou com o cesto vazio outra vez, o mestre fez a mesma pergunta:
– Então, meu filho, o que você aprendeu?
O discípulo respondeu com um certo sarcasmo:
– Que cesto furado não segura água!
O mestre, então, continuou ordenando que o discípulo repetisse a tarefa.
Depois da décima vez, o discípulo estava desesperadamente exausto de tanto descer e subir as escadarias. Porém, quando o mestre lhe perguntou de novo:
– Então, meu filho, e agora, o que você aprendeu?
O discípulo, olhando para dentro do cesto, percebeu admirado:
– O cesto está limpo!
Apesar de não segurar a água, a repetição constante de encher o cesto acabou por lavá-lo e deixá-lo limpo.
O mestre, por fim, concluiu:
– Não importa que você não consiga memorizar todos os ensinamentos adquiridos ao longo de sua vida. No processo de se conectar diversas vezes à sabedoria a sua mente e o seu coração vão se depurando. Inúmeros preconceitos se abrandam; a intolerância cede lugar à lucidez; a destrutividade, à criatividade; a oposição e competição gratuitas e infundadas, à cooperação ... Nesse processo, o homem, trabalhando no tempo e sendo continuadamente tocado pela sabedoria, vai “limpando-se” de seus aspectos grotescos e sombrios e torna-se verdadeiramente humano!

sábado, 24 de março de 2012

O Valor da Palavra

Será que já compreendemos profundamente o valor sagrado da palavra?
Será que já estamos prontos para assumir a responsabilidade de tudo o que falamos?
Será que já somos capazes de vislumbrar o alcance e a repercussão em nós e ao nosso redor de tudo o que falamos?
Este conto demonstra, com maestria, os prejuízos intermináveis produzidos pela falastranice:
  
Certa vez, uma jovem foi ter com um sábio para confessar seus pecados. Ele já conhecia muito bem uma das suas falhas. Não que ela fosse má, mas costumava falar dos amigos, dos conhecidos, deduzindo histórias sobre eles. Essas histórias passavam de boca em boca e acabavam fazendo mal - sem nenhum proveito para ninguém.
O sábio disse:
- Minha filha, você age mal falando dos outros. Tenho que lhe dar um dever. Vá ao mercado e compre um saco de penas. Depois caminhe para fora da cidade. Enquanto for andando, vá espalhando as penas por onde passar. Não pare até espalhado completamente o conteúdo do saco. Quando tiver feito isso, volte e me conte.
Ela pensou com os seus botões que era mesmo um dever muito singular! Mas não objetou. Comprou o saco, saiu da cidade caminhando e jogando as penas, como ele dissera. Depois voltou e contou ao sábio.
- Minha filha - disse o sábio - você completou a primeira parte do dever. Agora vem o resto.
- Sim senhor, o que é?
- Você deve voltar pelo mesmo caminho e catar todas as penas.
- Mas senhor, é impossível! A esta hora o vento já as espalhou por todas as direções. Posso até conseguir algumas, mas não todas!
- É verdade, minha filha. E não é isso mesmo que acontece com as palavras tolas que você deixa sair? Não é verdade que você inventa histórias que vão sendo espalhadas por aí, de boca em boca, até ficarem fora do seu alcance??? Será que você conseguiria segui-las e cancelá-las, se desejasse?
- Não, senhor.
- Então, minha filha, quando você sentir vontade de dizer coisas indelicadas sobre seus amigos, feche os lábios. Não espalhe essas penas, pequenas e maldosas, pelo seu caminho. Elas ferem, magoam, e a afastam do principal objetivo da vida que é ter amigos e ser feliz!!!

Há um ensinamento que pode ajudar muito, chama-se As Três Portas de Ouro:

Se você está tentado a revelar algo
que alguém acabou de lhe contar sobre outra pessoa,
Faça-o sem demora passar pelas
Três Portas de Ouro,
Antes de o dito divulgar.
- Isto é verdadeiro? - pergunta a estreita Porta de Ouro da VERACIDADE.
- Isto é útil? -indaga a apertada
Porta de Ouro da NECESSIDADE.
- Isto é bondoso? - questiona a última e mais estreita Porta de Ouro da AMOROSIDADE.
E se sua mente com sinceridade responder
o que pelas Três Portas de Ouro passar
e aos lábios finalmente chegar,
poderá então ser revelado, sem temer
o resultado que sua fala possa trazer.

"A separação entre pensamento e fala é mínima. Toda pessoa deve ter completa harmonia entre pensamento, palavra e ação."  (Sathya Sai Baba)

domingo, 18 de março de 2012

O Homem e a Rocha

Este belo conto é um incentivo muito forte para todo buscador espiritual. Quantas vezes achamos que nossa tarefa é inútil e não conseguimos avançar nem fazer nada de positivo? Quantas vezes consideramos o serviço acima das nossas forças? No entanto, deveríamos focar no exercício, no fazer, apenas, no esforço para realizar a tarefa. Este exercício constante, diário, é o desafio que nos fortalece.


Era uma vez um camponês que morava em uma cabana. Certa noite recebeu a visita de um anjo, que lhe mostrou uma grande rocha e deu-lhe uma tarefa: ele deveria empurrar a rocha com todas as suas forças.
Dia após dia, o homem tentava empurrar a rocha. Trabalhou incansavelmente por anos. Até que um dia, pensou: "Estou me esforçando em vão. A rocha não se moveu um milímetro sequer, embora tenha colocado toda a minha força." Sentiu-se desencorajado e pensamentos negativos tomaram conta da sua mente. Achou que sua tarefa era impossível e que ele próprio era um fracasso.
Numa noite de profundo desalento, decidiu orar e conversar com Deus: "Tenho trabalhado duro há tanto tempo, com tanto esforço, para obedecer as ordens do anjo, Seu emissário. Nada consegui, no entanto. O que está errado? Onde falhei?"
Dentro da sua consciência, Deus respondeu:
"Quando lhe pedi para Me servir e você aceitou, Eu disse que sua tarefa seria empurrar a rocha com todas as suas forças. Esta era a tarefa. E agora você sente que falhou. Será que falhou? Olhe para si mesmo: seus braços agora estão mais fortes, suas costas estão enrijecidas, suas mãos estão calejadas pela pressão constante, suas pernas estão firmes... em suma: você cresceu muito. As habilidades que desenvolveu superaram o que você era antes, mesmo sem ter movido a rocha. A tarefa era empurrar a rocha, exercitando sua fé e confiança em Mim. Foi o que fizeste. Mover a rocha é a Minha tarefa."
Exercite a fé que move montanhas, mas saiba que Deus é que as muda de lugar.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Os Lobos


Ouvir as críticas, as injustiças, os insultos sem se deixar afetar por eles – esta é a tarefa do sábio. Tarefa que frequentemente parece impossível, muito acima das nossas forças. Este conto nos ajuda a refletir sobre o estado imperturbável da mente. Os lobos estão dentro de nós. Precisamos pacificar não os lobos alheios, mas os nossos primeiro.

– Mestre, preciso da sua ajuda. Eu não sei mais o que fazer.
–O que lhe parece ser o problema?
–Estou tendo muita dificuldade em controlar minha raiva. É o jeito como as pessoas são. Eu as vejo criticando os outros, enquanto são totalmente cegas aos próprios defeitos! Eu não quero criticá-las para não ser como elas, mas isto realmente me irrita!
–Eu compreendo – disse o sábio. – Mas diga-me uma coisa primeiro: não foi você que escapou por pouco da morte no ano passado?
- Sim, foi uma experiência terrível! Eu me aventurei muito longe na floresta e fui cercado por um bando de lobos esfomeados. Eram lobos grandes e teriam me estraçalhado se tivessem me apanhado!
– E o que você fez?
–Eu subi numa árvore e fiquei lá por dois dias inteiros, sem água e sem comida.
–Foi uma provação difícil!...
–Sem dúvida! Eu me salvei graças a uns caçadores que me viram e dispersaram os lobos.
–Estou curioso com uma coisa: durante essa experiência você se sentiu ofendido pelos lobos?
–Como? Ofendido?
–Sim. Ofendido ou insultado pelos lobos.
–Claro que não, Mestre. Este pensamento nunca me passou pela cabeça!
–Como não? Eles queriam mordê-lo, não queriam? Eles queriam matá-lo, não queriam?
–Sim, mas... isto é o que os lobos fazem! Eles estavam agindo conforme sua natureza! Seria um absurdo que eu encarasse isto como ofensa!
–Ótimo! Agora vamos conservar este pensamento enquanto examinamos sua pergunta. Criticar os outros enquanto permanecem cegos para os próprios defeitos é uma coisa que muitas pessoas fazem. Pode-se até dizer que é uma coisa que todos nós fazemos de vez em quando. De uma certa forma, é um lobo voraz que vive em cada um de nós. Quando os lobos mostram suas presas e o ameaçam, não se deve ficar parado. Você certamente deve proteger-se fugindo deles tanto quanto possível. O aspecto crucial é que isto deve ser feito sem que se sinta ofendido ou insultado, porque essas pessoas estão apenas sendo elas mesmas. É da natureza delas serem críticas e cheias de julgamentos, de modo que seria um absurdo ficarmos ofendidos, e seria inútil ficarmos bravos. Da próxima vez em que os lobos esfomeados na pele de homens correrem atrás de você, lembre-se: é o jeito que as pessoas são – exatamente como você disse assim que chegou.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Às Bravas e Simples Mulheres Anônimas

Como hoje é o Dia Internacional da Mulher, dedico esta história, que não é bem um conto, a todas as mulheres simples e anônimas, bravas mulheres que executam seu serviço de forma humilde, aparentemente tão "sem importância"... Deveríamos nos conscientizar que todas as tarefas, desde as mais primárias até as que exigem um conhecimento mais elaborado e intelectual, são igualmente necessárias. 
A história é a seguinte:


Durante meu segundo mês na escola de enfermagem, nosso professor nos deu um questionário. Eu era bom aluno e respondi rápido todas as questões até chegar a última que era: “Qual o primeiro nome da mulher que faz a limpeza da escola?”
“Sinceramente, isso parecia uma piada”. Eu já tinha visto a tal mulher várias vezes. Ela era alta, cabelo escuro, lá pelos seus 50 anos, mas como eu ia saber o primeiro nome dela? Eu entreguei meu teste deixando essa questão em branco e um pouco antes da aula terminar, um aluno perguntou se a última pergunta do teste ia contar na nota.
- “É claro!” – respondeu o professor – “Na sua carreira, você encontrará muitas pessoas. Todas têm seu grau de importância. Elas merecem sua atenção mesmo que seja com um simples sorriso ou um simples ‘alô “.
Eu nunca mais esqueci essa lição.


sexta-feira, 2 de março de 2012

O Melhor Mestre

Chegar sem nada, partir sem nada, compreender que não há algum lugar onde se deve chegar. Nada a agregar. Já somos. Já estamos. Leia com o coração este conto, curto e simples como o zen:

Um monge zen de boa reputação contou que o maior mestre que ele conheceu chamava-se Oshibu.

- O que encontrou nele? - perguntou-lhe um outro monge.

- É muito simples: cheguei a ele sem nada e parti sem nada.

- Isso é tudo? - exclamou o outro monge. - E você disse que ele é o maior mestre que você já conheceu?

- Sim, eu disse.

- E por quê?

- Porque sem ele como eu teria sabido que cheguei sem nada e que parti sem nada?