quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Anel

(Conto Sufi)

Havia um rei muito poderoso que tinha tudo na vida, mas vivia inquieto, confuso. Resolveu então consultar os sábios do reino. Disse-lhes:
- Não sei por que, sinto-me estranho e preciso ter paz de espírito. É uma contradição, mas, quando estou alegre, sinto lá no fundo que falta alguma coisa. E sempre me desespero quando fico triste, como se o mundo fosse acabar amanhã. Não estou entendendo...
Os sábios resolveram dar um anel ao rei, desde que ele aceitasse certas condições. Debaixo do anel havia uma mensagem, mas o rei só deveria abrir o anel quando estivesse passando por um momento intolerável. Se abrisse apenas por curiosidade, a mensagem perderia seu significado.
Quando tudo estivesse perdido, a confusão fosse total, acontecesse a agonia e nada mais pudesse ser feito, aí o rei deveria abrir o anel. Ele jurou a si mesmo que seguiria o conselho.

Um dia o país entrou em guerra e perdeu. Houve vários momentos em que a situação ficou terrível, mas o rei não abriu o anel porque ainda não era o fim. O reino estava perdido mas, quem sabe, poderia recuperá-lo. Fugiu do reino para se salvar.
O inimigo o seguiu, mas o rei cavalgou até perder os companheiros e o cavalo. Seguiu a pé sozinho e os inimigos atrás, tanto que era possível ouvir o tropel dos cavalos. Os pés sangravam, mas ele tinha de continuar a correr.
O inimigo foi-se aproximando e o rei, quase desmaiado, chegou à beira de um precipício. Os inimigos cada vez mais perto e não há saída, mas o rei ainda pensa: “Estou vivo, talvez eles mudem de direção, a condição não está preenchida”.
O rei olha para o abismo e vê leões lá embaixo, não tem mais jeito. Os inimigos o estão alcançando, então o rei abre o anel e lê a mensagem:

ISTO TAMBÉM PASSARÁ.

Aí ele relaxa. Isto também passará. De uma forma natural, sem que o rei entendesse bem por que, o inimigo mudou de direção.
O rei voltou a casa e, tempos depois, reuniu seus exércitos e reconquistou seu país. Houve grande festa, o povo dançou nas ruas e o rei ficou felicíssimo, chorou de tanta alegria, mas aí lembrou-se novamente do anel e da mensagem:
- Isto também passará.
Novamente relaxou e assim obteve a sabedoria e a paz de espírito.

Sempre que você se encontrar diante de vastas emoções, seja ódio, grande tristeza, superfelicidade, forte preocupação com o próprio bem-estar ou o da família, e até mesmo num momento de beatitude, lembre-se: - Isto também passará. O ódio não será ódio, a felicidade não será felicidade, a tristeza não existirá, nem a preocupação – você estará vivendo apenas uma fase, um instante, um momento como tantos na poeira do Tempo.
Ódio, tristeza, preocupação, felicidade não são você. São visitas que vêm e vão. São acidentes, ou alguma coisa ao seu redor, mas não têm nada a ver com você intelecto, eu superior, semente inteligente de vida, pedaço desgarrado do Espírito de Deus.
Se você se lembrar sempre que isto também passará, ficará à parte disto, do que for, e permanecerá intacto. A miséria vem. Deixe que venha, ela passará. A riqueza vem. Que venha, ela também passará.
Estará criada, então, uma grande distância entre você e seus diversos estados de espírito. Você não mais se identificará com eles, apenas os observará. Não se envolverá, será um espectador.
Perceba agora este silêncio profundo que está descendo sobre você. Não é um silêncio forçado, mas um silêncio que tem algo de divino. Porque nada mais o pode abalar, nada. Felicidade e infelicidade, vitória e derrota, gozo e dor passam a ser a mesma coisa.
Quando a felicidade chegar, ela será felicidade, mas seu afastamento não provocará seu próprio reverso nem sua própria negação. Que bom que a felicidade chegou, mas esse é apenas um momento a ser vivido. O mesmo ocorrerá com a infelicidade.
Por isso, quanto maior a distância que você guardar delas, maior a sensação de consciência, de segurança, de abrangência, de visão panorâmica da vida. Você estará matando o seu equivocado EU e se preparando para mais uma ressurreição.
O velho tem de ceder lugar ao novo, como um ano novo que se inicia. Deixe que se afastem as velhas atitudes, os velhos conceitos, sua velha identidade – e dê lugar ao Novo. O Novo está aí, à sua espera. Mas nem sempre existe espaço em você para que ele realmente venha. Crie seu espaço.

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