sábado, 22 de setembro de 2012

Os Animais Internos


Um ermitão, uma destas pessoas que se refugiam na solidão do deserto, do bosque ou das montanhas para dedicar-se somente à oração e à penitência, muitas vezes reclamava que tinha muito que fazer. Perguntaram-lhe como era possível que em sua solidão tivesse tanto trabalho.
- Tenho que domar dois falcões, treinar duas águias, manter quietos dois coelhos, vigiar uma serpente, carregar um asno e sujeitar um leão.
- Não vemos nenhum animal perto do local onde vives. Onde estão estes animais?
O ermitão explicou:
- Estes animais todos os homens têm, vocês também... Os dois falcões se lançam sobre tudo o que aparece, seja bom ou mau; tenho que domá-los para que só fixem sobre uma boa presa: são meus olhos. As duas águias ferem e destroçam com suas garras; tenho que treiná-las para que sejam úteis e ajudem sem ferir: são minhas mãos. Os dois coelhos querem ir onde lhes apraz, fugindo dos demais e esquivando-se das dificuldades; tenho que ensinar-lhes a ficarem quietos mesmo que seja penoso, problemático ou desagradável: são meus pés. O mais difícil é vigiar a serpente porque, apesar de estar presa numa jaula de 32 barras, está sempre pronta para morder e envenenar os que a rodeiam, mal se abre a jaula; se não a vigio de perto, causa danos: é minha língua. O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas obrigações; alega estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia: é meu corpo. Finalmente, preciso domar o leão; quer ser o rei, o mais importante; é vaidoso e orgulhoso: é meu coração. Portanto, há muito que fazer....

 ... cuidem bem de seus "animais".