domingo, 27 de janeiro de 2013

O Problema


Conta a lenda que num monastério budista localizado  numa encosta quase inacessível dos Himalayas, um belo dia o monge guardião amanheceu sem vida..

Após os rituais próprios, começaram as especulações sobre quem seria o próximo Guardião. O Monge Superior convocou a todos para escolher aquele que substituiria o Guardião colocando, com muita tranquilidade e calma, em cima de uma mesa localizada no centro da enorme sala onde estavam reunidos, um magnífico jarro de porcelana com uma belíssima rosa amarela, de extraordinária beleza, dentro dele. E disse:

- Temos aqui um problema. Assumirá o posto de Honorável Guardião do nosso monastério o primeiro monge que possa solucioná-lo.

Todos se entreolharam, surpresos, admirando aquela cena: um jarro de grande valor e beleza, servindo de suporte para uma maravilhosa flor. Um grande silêncio encheu a sala. Aturdidos pelo inesperado, os monges se interrogavam internamente… O que poderia significar aquele jarro com a flor? O que fazer com ele? Qual poderia ser o enigma encerrado em tão delicada beleza? Simbolizaria acaso as tentações do mundo? Poderia ser algo simples como colocar água na flor? As perguntas eram muitas e eles não conseguiam interpretar o enigma.

Subitamente, um dos monges puxou uma espada, fixou o olhar no Monge Superior e nos seus companheiros, dirigiu-se ao centro da sala e... zaz!!  Destruiu tudo num só golpe. Tão logo quebrou o vaso e voltou ao seu lugar, ouviu as palavras do Monge Superior:

– Alguém atreveu-se não somente a dar solução ao problema, como também a eliminá-lo. Honremos o nosso novo Guardião do Monastério.

Os problemas precisam ser eliminados, para que nossas mentes se libertem. Muitas pessoas carregam durante toda uma vida o peso de problemas imaginários ou de experiências e vivências do passado que continuam influenciando o presente, tornando-se um problema. É preciso coragem para romper velhos padrões, substituir velhos pensamentos e sentimentos, mas só assim poderemos criar o NOVO e nos RECRIARMOS. Ao nos recriarmos, estamos recriando a vida.

Um antigo provérbio chinês diz:

"Para que tu possas tomar vinho em um copo que se encontra cheio de chá, é necessário primeiro jogar fora o chá; então, poderás servir e beber o vinho."

“Limpa tua vida, começa pelas gavetas, armários, até chegar às pessoas do passado que não têm mais sentido em seguir ocupando espaço na tua mente.”

Em suma: quebra teu vaso numa atitude corajosa, num golpe certeiro, e verás um novo dia florescer, palpitante de vida.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Os Sons do Silêncio


Um rei mandou seu filho estudar no templo de um sábio mestre com o objetivo de prepará-lo para ser um grande líder. Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, e descrever todos os sons da floresta.

Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir. Então disse o príncipe: "Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus..." E ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse à floresta para ouvir tudo o mais que fosse possível.

Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do mestre, pensando: "Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta..."

Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... mas não conseguia distinguir nada além daquilo que já havia relatado ao mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E, quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Pensou: - "Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse..." E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria ter certeza de que estava no caminho certo.

Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir. Paciente e respeitosamente, o príncipe falou: "Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e o da grama bebendo o orvalho da noite...

Sorrindo, o mestre acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse: 

"Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma pessoa importante. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender o que está errado e atender às reais necessidades de cada um”. E acrescentou: 

"A morte de uma relação começa quando as pessoas ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem se atentarem no que vai no interior das pessoas para ouvir os seus sentimentos, desejos e opiniões reais. É preciso, portanto, ouvir o lado inaudível das coisas, o lado não mensurado,mas que tem o seu valor, pois é o lado mais importante do ser humano..."

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Deus e a Manteiga


Uma vila cheia de ateus recebeu, certa vez, a visita de um monge. Logo na entrada, foi recebido por uma turma de jovens rebeldes que o desafiaram a mostrar para eles que o Deus a quem ele adorava de fato existia.

O monge apenas pediu ao grupo um copo de leite, no que foi atendido. Quando o leite foi colocado diante dele, o monge simplesmente sentou-se e olhou para o copo, longa e silenciosamente, com curiosidade crescente. Os jovens ficaram impacientes e começaram a reclamar, dizendo que estavam perdendo tempo.O monge então falou:

– Esperem só mais um minuto! É que sempre me disseram que há manteiga no leite, mas por mais que eu olhe e examine, não vejo a manteiga! Creio que me enganaram!
Rindo muito e zombando da inocência do monge, os jovens disseram:

– Monge tolo! Não se apresse em tais conclusões absurdas. O leite tem manteiga em cada gota e isto é o que o faz ser nutritivo. Para poder enxergar a manteiga, é necessário ferver o leite, deixar esfriar, acrescentar coalho azedo, esperar por algumas horas para coalhar e, então, agitá-lo, batendo com uma colher até que a manteiga flutue, como uma bola.

– Ah! – disse o monge – dessa forma minha tarefa de mostrar Deus a vocês ficou mais fácil! Deus está em cada objeto, ser e átomo do Universo; é por causa disso que Ele existe e nós podemos reconhecê-Lo e desfrutá-Lo. No entanto, para vê-Lo como uma entidade concreta, vocês precisam seguir um procedimento prescrito, séria, estrita e sinceramente. Então, ao término de tudo, vocês poderão experimentar a graça e a glória d’Ele.

"Os Upanishads declaram: Deus é a essência. Isso significa que Deus está presente de forma sutil, em toda parte, como o açúcar na cana-de-açúcar e a manteiga no leite. Embora seja difícil ter uma percepção direta de Deus, Sua presença pode ser experimentada de várias maneiras. A doçura no açúcar, a acidez no limão, o amargor na folha de margosa - todos testemunham a presença do Divino." (Sathya Sai Baba) 


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Somos Todos Cisnes

—Vovó, por que as pessoas sofrem?
—Como é, minha neta?
—Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?
—Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.
—Vó... Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.
—É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?
—Não, Vovó.
—Você lembra da historinha do Patinho Feio?
—Lembro.
—Então... o Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.
—O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
—Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-Cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.
—É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
—É por isso! Viu como você é esperta?
—Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?
—Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?
—O que?
—Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
—Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
—Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.
—É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
—Não entendi, minha filha?
—Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro...
—Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
—Todos nós somos, querida. Em parte.
—Ele vai descobrir quem ele é de verdade?
—Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.
—E aí viramos cisnes?
—Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.
—Aonde você vai?
—Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!
A boa vovó apenas sorriu!

domingo, 13 de janeiro de 2013

O Mestre Sufi e as Parábolas



Um Mestre Sufi contava sempre uma parábola no final de cada aula, mas os alunos nem sempre entendiam o seu significado.
- Mestre, - perguntou um deles, certo dia - tu contas-nos contos mas nunca nos explicas o que significam.
- As minhas desculpas. - disse o Mestre - Como compensação, deixa-me que te ofereça um belo pêssego.
- Obrigado, Mestre - disse o discípulo, comovido.
- Mais ainda: como prova do meu afecto, queria descascar-te o pêssego. Permites que o faça?
- Sim, muito obrigado. - disse o discípulo.
- E, já que tenho a faca na mão, não gostarias que eu cortasse o pêssego em pedaços, para que te seja mais fácil comê-lo?
- Sim, mas não quero abusar da tua generosidade, Mestre...
- Não é um abuso; sou eu que me estou a oferecer. Quero apenas agradar-te. Permite-me também que mastigue o pêssego antes de to oferecer...
- Não, Mestre! Não gostaria que fizesses isso! - queixou-se o discípulo, surpreendido.
O Mestre fez uma pausa e disse:
- Se vos explicasse o sentido de cada conto, seria como dar-vos de comer fruta mastigada.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Inferioridade


Um samurai, conhecido por todos pela sua nobreza e honestidade, veio visitar um monge Zen em busca de conselhos. Entretanto, assim que entrou no templo onde o mestre rezava, sentiu-se inferior, e concluiu que, apesar de toda a sua vida ter lutado por justiça e paz, não tinha sequer chegado perto ao estado de graça do homem que tinha à sua frente.
- Por que razão me estou a sentir tão inferior a si? Já enfrentei a morte muitas vezes, defendi os mais fracos, sei que não tenho nada do que me envergonhar. Entretanto, ao vê-lo meditar, senti que a minha vida não tem a menor importância.
- Espere. Assim que eu tiver atendido todos os que me procurarem hoje, eu dou-te a resposta.
Durante o resto do dia o samurai ficou sentado no jardim do templo, a olhar para as pessoas que entraram e saíram à procura de conselhos. Viu como o monge atendia a todos com a mesma paciência e com o mesmo sorriso luminoso no seu rosto. Mas o seu estado de ânimo ficava cada vez pior, pois tinha nascido para agir, não para esperar. De noite, quando todos já tinham partido, ele insistiu:
- Agora podes-me ensinar?
O mestre pediu que entrasse, e conduziu-o até o seu quarto. A lua cheia brilhava no céu, e todo o ambiente inspirava uma profunda tranquilidade.
- Estás a ver esta lua, como ela é linda? Ela vai cruzar todo o firmamento, e amanhã o sol tornará de novo a brilhar. Só que a luz do sol é muito mais forte, e consegue mostrar os detalhes da paisagem que temos à nossa frente: árvores, montanhas, nuvens. Tenho contemplado os dois durante anos, e nunca escutei a lua a dizer: por que não tenho o mesmo brilho do sol? Será que sou inferior a ele?
- Claro que não - respondeu o samurai. - Lua e sol são coisas diferentes, e cada um tem sua própria beleza. Não podemos comparar os dois.
- Então, tu sabes a resposta. Somos duas pessoas diferentes, cada qual a lutar à sua maneira por aquilo que acredita, e a fazer o possível para tornar este mundo melhor; o resto são apenas aparências.