segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Amantes da Música


Num antigo país do oriente, havia um rei que era amante da música e costumava oferecer grandes saraus na sua corte, quando dava oportunidade aos músicos do reino de se apresentar e ganhar notoriedade. Um desses músicos, no entanto, sempre recusava o convite do rei. E era considerado o melhor músico das redondezas! Daí, o rei foi pessoalmente convidá-lo para tocar em seu palácio. E recebeu do artista a estranha resposta: 

- Aceito o convite de Vossa Majestade com uma condição: que seja avisado a todos que ninguém poderá mover a cabeça enquanto eu estiver tocando e cantando. Caso alguém o faça, deverá ser decapitado.

O soberano aceitou e enviou os convites, com a ressalva:

- Lembrem-se que é um jogo perigoso. Meus soldados estarão atrás de cada convidado, empunhando espadas, prontos para decapitar o primeiro que mexer a cabeça.

Dentre os dez mil apreciadores da música e frequentadores da corte, o rei conseguiu que cinquenta comparecessem. Todos tinham consciência do enorme risco... Podia-se mexer a cabeça por causa de um mosquito ou esquecer-se do aviso, pois o músico era muito especial... 

O músico começou o recital. Era um virtuose. Sua música era simplesmente arrebatadora e bastaram quinze minutos de apresentação para que as pessoas se esquecessem do perigo... assim, algumas cabeças começaram a se mexer. Outras foram se juntando a elas e de repente, todas as cabeças se mexiam. O monarca ficou preocupado, porque havia prometido cortar a cabeça de quem se mexesse...

Finalmente, concluído o primeiro número, o rei perguntou:

- Mando cortar as cabeças? Como rei, não posso falhar com a minha palavra!

O músico deu uma grande gargalhada e respondeu:

- Eu impus essa condição porque queria atrair apenas os verdadeiros amantes da música. Por favor, peça a seus soldados que se retirem. Agora que todas as cabeças se mexeram, continuarei a tocar. Este é o público que esperei durante toda a minha vida. Estas são as pessoas que se esqueceram de si mesmas; que se esqueceram inclusive do risco que corriam.

Este deveria ser o propósito da verdadeira arte: arrebatar a nossa mente até o abandono de si mesma. É quando sentimos a força do eterno presente. 

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