sábado, 6 de setembro de 2014

Estamos de Passagem

Um homem foi visitar um sábio monge.


Ficou, no entanto, surpreso ao ver que o sábio morava numa simples cabana muitos livros, mas poucos móveis: uma cama, uma pequena mesa e um banco.

– Onde estão os seus móveis? Perguntou o homem.

E o sábio, rapidamente, perguntou também:

– E onde estão os seus?

– Os meus? Surpreendeu-se o visitante. – Mas eu estou aqui só de passagem!

– Eu também - respondeu o sábio.

Estamos de passagem. Apenas de passagem. Por isso, cuidemos da nossa alma e dos valores do espírito. Cuidemos de ser felizes com as coisas simples.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Buda e a Compaixão

Dizem que, quando Buda chegou à porta do Supremo, ele parou ali, não podia entrar. A porta estava aberta, os devas, os deuses, estavam prontos para lhe dar as boas-vindas, mas ele não podia entrar.

Os devas lhe perguntaram:

– Por que você está parado aí? Entre. Estamos esperando por você há séculos. Seja bem-vindo. Você voltou para casa.

Buda disse:

– Eu ficarei aqui, tenho de ficar aqui. Até que o último ser humano passe por mim e entre por essa porta, eu não posso entrar.

Esta é uma bela parábola. Buda fez da compaixão o critério da iluminação. Uma vez que a tenha atingido, você não sofre por si, mas pelo outro.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

A Pequena Alma e o Sol

Era uma vez, em tempo nenhum, uma Pequena Alma que disse a Deus:
— Eu sei quem sou!
E Deus disse:
— Que bom! Quem és tu?
E a Pequena Alma gritou:
— Eu sou Luz
E Deus sorriu.
— É isso mesmo! — exclamou Deus. — Tu és Luz!

A Pequena Alma ficou muito contente, porque tinha descoberto aquilo que todas as almas do Reino deveriam descobrir.
— Uauu, isto é mesmo bom! — disse a Pequena Alma.

Mas, passado pouco tempo, saber quem era já não lhe chegava. A pequena Alma sentia-se agitada por dentro, e agora queria ser quem era. Então foi ter com Deus (o que não é má ideia para qualquer alma que queira ser Quem Realmente É, e disse:
— Olá Deus! Agora que sei Quem Sou, posso sê-lo?

E Deus disse:
— Quer dizer que queres ser Quem já És?
— Bem, uma coisa é saber Quem Sou, e outra coisa é sê-lo mesmo. Quero sentir como é ser a Luz! — respondeu a pequena Alma.
— Mas tu já és Luz — repetiu Deus, sorrindo outra vez.
— Sim, mas quero senti-lo! — gritou a Pequena Alma.
— Bem, acho que já era de esperar. Tu sempre foste aventureira — disse Deus com uma risada. Depois a sua expressão mudou.
— Há só uma coisa…
— O quê? — perguntou a Pequena Alma.
— Bem, não há nada para além da Luz. Porque eu não criei nada para além daquilo que tu és; por isso, não vai ser fácil experimentares-te como Quem És, porque não há nada que tu não sejas.
— Hã? — disse a Pequena Alma, que já estava um pouco confusa.
— Pensa assim: tu és como uma vela ao Sol. Estás lá sem dúvida. Tu e mais milhões, zilhões de outras velas que constituem o Sol. E o Sol não seria o Sol sem vocês. Não seria um sol sem uma das suas velas… e isso não seria de todo o Sol, pois não brilharia tanto. E no entanto, como podes conhecer-te como a Luz quando estás no meio da Luz — eis a questão.
— Bem, tu és Deus. Pensa em alguma coisa! — disse a Pequena Alma mais animada.

Deus sorriu novamente.
— Já pensei. Já que não podes ver-te como a Luz quando estás na Luz, vamos rodear-te de escuridão — disse Deus.
— O que é a escuridão? perguntou a Pequena Alma.
— É aquilo que tu não és — replicou Deus.
— Eu vou ter medo do escuro? — choramingou a Pequena Alma.
— Só se o escolheres. Na verdade não há nada de que devas ter medo, a não ser que assim o decidas. Porque estamos inventando tudo. Estamos fingindo.
— Ah! — disse a Pequena Alma, sentindo-se logo melhor.

Depois Deus explicou que, para se experimentar o que quer que seja, tem de aparecer exatamente o oposto.
— É uma grande dádiva, porque sem ela não poderíamos saber como nada é — disse Deus — Não poderíamos conhecer o Quente sem o Frio, o Alto sem o Baixo, o Rápido sem o Lento. Não poderíamos conhecer a Esquerda sem a Direita, o Aqui sem o Ali, o Agora sem o Depois. E por isso, — continuou Deus — quando estiveres rodeada de escuridão, não levantes o punho nem a voz para amaldiçoar a escuridão. Sê antes uma Luz na escuridão, e não fiques furiosa com ela. Então saberás Quem Realmente És, e os outros também o saberão. Deixa que a tua Luz brilhe tanto que todos saibam como és especial!
— Então posso deixar que os outros vejam que sou especial? — perguntou a Pequena Alma.
— Claro! — Deus riu-se. — Claro que podes! Mas lembra-te de que “especial” não quer dizer “melhor”! Todos são especiais, cada qual à sua maneira! Só que muitos esqueceram-se disso. Esses apenas vão ver que podem ser especiais quando tu vires que podes ser especial!
— Uau — disse a Pequena Alma, dançando e saltando e rindo e pulando. — Posso ser tão especial quanto quiser!
— Sim, e podes começar agora mesmo — disse Deus, também dançando e saltando e rindo e pulando juntamente com a Pequena Alma
— Que parte de especial é que queres ser?
— Que parte de especial? — repetiu a Pequena Alma. — Não estou a perceber.
— Bem, — explicou Deus — ser a Luz é ser especial, e ser especial tem muitas partes. É especial ser bondoso. É especial ser delicado. É especial ser criativo. É especial ser paciente. Conheces alguma outra maneira de ser especial?

A Pequena Alma ficou em silêncio por um momento.
— Conheço imensas maneiras de ser especial! — exclamou a Pequena Alma — É especial ser prestável. É especial ser generoso. É especial ser simpático. É especial ser atencioso com os outros.
— Sim! — concordou Deus — E tu podes ser todas essas coisas, ou qualquer parte de especial que queiras ser, em qualquer momento. É isso que significa ser a Luz.
— Eu sei o que quero ser, eu sei o que quero ser! — proclamou a Pequena Alma com grande entusiasmo. — Quero ser a parte de especial chamada “perdão”. Não é ser especial alguém que perdoa?
— Ah, sim, isso é muito especial, assegurou Deus à Pequena Alma.
— Está bem. É isso que eu quero ser. Quero ser alguém que perdoa. Quero experimentar-me assim — disse a Pequena Alma.
— Bom, mas há uma coisa que devias saber — disse Deus.

A Pequena Alma já começava a ficar um bocadinho impaciente. Parecia haver sempre alguma complicação.
— O que é? — suspirou a Pequena Alma.
— Não há ninguém a quem perdoar.
— Ninguém? A Pequena Alma nem queria acreditar no que tinha ouvido.
— Ninguém! — repetiu Deus. Tudo o que Eu fiz é perfeito. Não há uma única alma em toda a Criação menos perfeita do que tu. Olha à tua volta.

Foi então que a Pequena Alma reparou na multidão que se tinha aproximado. Outras almas tinham vindo de todos os lados — de todo o Reino — porque tinham ouvido dizer que a Pequena Alma estava a ter uma conversa extraordinária com Deus, e todas queriam ouvir o que eles estavam a dizer. Olhando para todas as outras almas ali reunidas, a Pequena Alma teve de concordar. Nenhuma parecia menos maravilhosa, ou menos perfeita do que ela. Eram de tal forma maravilhosas, e a sua Luz brilhava tanto, que a Pequena Alma mal podia olhar para elas.
— Então, perdoar quem? — perguntou Deus.
— Bem, isto não vai ter piada nenhuma! — resmungou a Pequena Alma — Eu queria experimentar-me como Aquela que Perdoa. Queria saber como é ser essa parte de especial. E a Pequena Alma aprendeu o que é sentir-se triste. 

Mas, nesse instante, uma Alma Amiga destacou-se da multidão e disse:
— Não te preocupes, Pequena Alma, eu vou ajudar-te — disse a Alma Amiga.
— Vais? — a Pequena Alma animou-se. — Mas o que é que tu podes fazer?
— Ora, posso dar-te alguém a quem perdoares!
— Podes?
— Claro! — disse a Alma Amiga alegremente. — Posso entrar na tua próxima vida física e fazer qualquer coisa para tu perdoares.
— Mas porquê? Porque é que farias isso? — perguntou a Pequena Alma. — Tu, que és um ser tão absolutamente perfeito! Tu, que vibras a uma velocidade tão rápida a ponto de criar uma Luz de tal forma brilhante que mal posso olhar para ti! O que é que te levaria a abrandar a tua vibração para uma velocidade tal que tornasse a tua Luz brilhante numa luz escura e baça? O que é que te levaria a ti, que danças sobre as estrelas e te moves pelo Reino à velocidade do pensamento, a entrar na minha vida e a tornares-te tão pesada a ponto de fazeres algo de mal?
— É simples — disse a Alma Amiga. — Faço-o porque te amo.

A Pequena Alma pareceu surpreendida com a resposta.
— Não fiques tão espantada — disse a Alma Amiga — tu fizeste o mesmo por mim. Não te lembras? Ah, nós já dançamos juntas, tu e eu, muitas vezes. Dançamos ao longo das eternidades e através de todas as épocas. Brincamos juntas através de todo o tempo e em muitos sítios. Só que tu não te lembras. Já fomos ambas o Todo. Fomos o Alto e o Baixo, a Esquerda e a Direita. Fomos o Aqui e o Ali, o Agora e o Depois. Fomos o Masculino e o Feminino, o Bom e o Mau — fomos ambas a vítima e o vilão. Encontramo-nos muitas vezes, tu e eu; cada uma trazendo à outra a oportunidade exata e perfeita para Expressar e Experimentar Quem Realmente Somos.
— E assim, — a Alma Amiga explicou mais um bocadinho — eu vou entrar na tua próxima vida física e ser a “má” desta vez. Vou fazer alguma coisa terrível, e então tu podes experimentar-te como Aquela Que Perdoa.
— Mas o que é que vais fazer que seja assim tão terrível? — perguntou a Pequena Alma, um pouco nervosa.
— Oh, havemos de pensar nalguma coisa — respondeu a Alma Amiga, piscando o olho.

Então a Alma Amiga pareceu ficar séria, disse numa voz mais calma:
— Mas tens razão acerca de uma coisa, sabes?
— Sobre o quê? — perguntou a Pequena Alma.
— Eu vou ter de abrandar a minha vibração e tornar-me muito pesada para fazer esta coisa não muito boa. Vou ter de fingir ser uma coisa muito diferente de mim. E por isso, só te peço um favor em troca.
— Oh, qualquer coisa, o que tu quiseres! — exclamou a Pequena Alma, e começou a dançar e a cantar: — Eu vou poder perdoar, eu vou poder perdoar!

Então a Pequena Alma viu que a Alma Amiga estava muito quieta.
— O que é? — perguntou a Pequena Alma.
— O que é que eu posso fazer por ti? És um anjo por estares disposta a fazer isto por mim!
— Claro que esta Alma Amiga é um anjo! — interrompeu Deus, — são todas! Lembra-te sempre: Não te enviei senão anjos.

E então a Pequena Alma quis mais do que nunca satisfazer o pedido da Alma Amiga.
— O que é que posso fazer por ti? — perguntou novamente a Pequena Alma.
— No momento em que eu te atacar e atingir, — respondeu a Alma Amiga — no momento em que eu te fizer a pior coisa que possas imaginar, nesse preciso momento…
— Sim? — interrompeu a Pequena Alma
— Sim?

A Alma Amiga ficou ainda mais quieta.
— Lembra-te de Quem Realmente Sou.
— Oh, não me hei-de esquecer! — gritou a Pequena Alma — Prometo! Lembrar-me-ei sempre de ti tal como te vejo aqui e agora.
— Que bom, — disse a Alma Amiga — porque, sabes, eu vou estar a fingir tanto, que eu própria me vou esquecer. E se tu não te lembrares de mim tal como eu sou realmente, eu posso também não me lembrar durante muito tempo. E se eu me esquecer de Quem Sou, tu podes esquecer-te de Quem És, e ficaremos as duas perdidas. Então, vamos precisar que venha outra alma para nos lembrar às duas Quem Somos.
— Não vamos, não! — prometeu outra vez a Pequena Alma. — Eu vou lembrar-me de ti! E vou agradecer-te por esta dádiva — a oportunidade que me dás de me experimentar como Quem Eu Sou.

E assim o acordo foi feito. E a Pequena Alma avançou para uma nova vida, entusiasmada por ser a Luz, que era muito especial, e entusiasmada por ser aquela parte especial a que se chama Perdão. E a Pequena Alma esperou ansiosamente pela oportunidade de se experimentar como Perdão, e por agradecer a qualquer outra alma que o tornasse possível.

E, em todos os momentos dessa nova vida, sempre que uma nova alma aparecia em cena, quer essa nova alma trouxesse alegria ou tristeza — principalmente se trouxesse tristeza — a Pequena Alma pensava no que Deus lhe tinha dito:
— Lembra-te sempre, — Deus aqui tinha sorrido — não te enviei senão anjos.

FONTE: Um conto francês, de Neale Donald Walsch.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Buda e o Conceito de Deus

Uma vez aconteceu: Buda entrou numa aldeia e um homem perguntou-lhe: “Deus existe?” Buda responde: “Não, absolutamente”.

À tarde, outro homem surgiu e perguntou: “Deus existe?” Buda respondeu: “Sim, absolutamente”.

À noite, veio outro homem que lhe perguntou: “Deus existe?” Buda encerrou os olhos e ficou em profundo silêncio... O homem também fechou os olhos. Algo surgiu daquele silêncio. Após alguns minutos o homem tocou nos pés de Buda, fez-lhe uma vénia, prestou o seu respeito e disse: “Foste o primeiro que respondeu à minha pergunta”.

O discípulo de Buda, Ananda, ficou confuso: “De manhã ele disse não, à tarde disse sim, e à noite não respondeu de todo... Qual é o problema? Qual é a verdade realmente?”

Quando Buda se ia deitar, Ananda disse: “Primeiro responde-me senão não vou conseguir dormir... Tens que ser um pouco mais compassivo comigo – estive contigo todo o dia. Estas três pessoas não sabem sobre as outras respostas, mas eu as ouvi. Então, e eu? Estou confuso”...

Buda respondeu: 

“Eu não estava a falar contigo... Tu não perguntaste e eu não TE respondi... O primeiro homem era crente, o segundo ateu, e o terceiro agnóstico... A minha resposta não teve nada a ver com Deus, teve que ver com o questionador. À pessoa que acreditava em Deus eu respondi não porque eu queria que desistisse da ideia que tem de Deus – que é emprestada... Ele ainda não o experienciou senão não tinha perguntado... A pessoa que acreditava em Deus estava a tentar confirmar as suas crenças... Eu não lhe ia dizer que sim... Não vou confirmar as crenças de quem quer que seja... Tive que lhe destruir as crenças, porque as crenças são barreiras para a verdade. Crentes ou ateus, hindus, cristãos ou muçulmanos, todos os sistemas de crenças são barreiras... A pessoa com quem fiquei em silêncio foi o verdadeiro inquisidor... Ele não tinha crenças, por isso não havia necessidade de destruir o que quer que fosse... Mantive o silêncio. Foi a minha mensagem para ele: fica em silêncio e descobre... Não perguntes, não há necessidade de perguntar... Não é uma questão que possa ser respondida... Não é um inquérito; é uma busca... Também lhe respondi através do meu silêncio, que ele seguiu de imediato... Eu fechei os olhos, ele fechou os olhos. Eu olhei para dentro, ele olhou para dentro e depois algo surgiu... Foi por isso que ele ficou tão assoberbado e sentiu tanta gratidão – eu não lhe dei uma resposta intelectual... Ele não vinha à procura de respostas intelectuais, estas estão sempre disponíveis a baixo preço... Ele procurava algo existencial, ele precisava de provar... E provou... A Meditação também é assim: silenciar a mente e tornar-se uno..."

(Desconheço a autoria)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Origem do Ikebana

“Um dia, enquanto caminhava, Buda encontrou um ramo de rosas caído no chão e sentiu um profundo amor por essas flores. Pediu a seus discípulos que colocassem esse ramo em um vaso com água, para prolongar o tempo de duração dessas rosas, explicando a importância de respeitar e preservar toda forma de vida. 

A partir desse dia, seus seguidores começaram a colher as flores nos campos e a montar singelos arranjos em homenagem a Buda. E foi assim que começou a surgir a milenar arte japonesa de arranjos florais: o Ikebana.” 

(Do livro Caminho da Flor)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O Rei e os Idosos

Buda, certa vez, contou o seguinte:

Havia um rei que não gostava dos idosos. Considerava que eles eram um estorvo ao país. Assim, assinou um decreto determinando a deportação de todas as pessoas acima de 60 anos. E todo aquele que descumprisse o decreto teria de sofrer severas punições.

Ocorre que um dos seus súditos não teve coragem de mandar seu próprio pai embora e decidiu mantê-lo escondido, numa caverna subterrânea, levando para ele, todos os dias, água e comida. O velho pai, que era um homem sábio, passava o tempo de forma tranquila, lendo as escrituras budistas.

Ao tomar conhecimento do decreto desumano do malvado rei, o Imperador Sakra (o Rei do Céu no Budismo) decidiu enviar uma mensagem ao rei. Esta mensagem continha uma lista de problemas que ele deveria solucionar, sob pena de perder o reino para sempre. Os problemas eram:

O mensageiro do Céu colocou duas cobras em frente ao Palácio e pediu ao Rei que distinguisse a cobra masculina da cobra feminina; depois, ele deu um elefante ao Rei, pedindo-lhe que dissesse o seu peso; daí, colocou uma tigela com água pura em frente ao Palácio e pediu ao Rei que encontrasse outra tigela de água mais valiosa do que aquela; mostrou um pedaço de sândalo e pediu ao Rei para definir onde está a cabeça e o fim daquela madeira; por último, o mensageiro trouxe dois cavalos brancos idênticos, para que o rei dissesse quem era a mãe entre os dois.

Imediatamente, o rei convocou todos os seus oficiais, para ajuda-lo a solucionar os enigmas, mas nenhum deles foi capaz de resolvê-los. Havia um prazo e o rei, preocupado, espalhou cartazes por todo o reino, prometendo recompensas a quem o ajudasse a descobrir as respostas certas.

No último dia do prazo, quando o próprio Imperador Sakra apareceu para determinar o destino do rei, o súdito cujo pai idoso estava escondido, apresentou-se e disse: “Meu pai tem as soluções”. Autorizado pelo imperador, o velho homem aproximou-se.

Para distinguir a cobra masculina da feminina, o homem sábio colocou-as num pedaço de tecido bem macio. Uma delas começou a se mostrar incomodada e tentou escapar. "Esta deve ser a cobra masculina. A outra, que está quieta, é a feminina", disse o velho pai. Problema número um resolvido.

Daí, o velho pediu que o elefante fosse conduzido para dentro de um barco, num rio próximo. O barco afundou um pouco, mas estabilizou-se. Ele fez uma marca da altura da água no lado do barco e deixou o elefante sair dele. Em seguida, foi enchendo o barco de pedras até que elas atingissem a marca feita anteriormente. Então, colocou as pedras na balança e pôde, assim, determinar o peso do elefante. Segundo problema resolvido.

Para solucionar o problema da tigela de água, o velho pai disse: "Tudo o que tenho a fazer é pegar qualquer outra tigela de água e dá-la a alguma pessoa sedenta, como um viajante num deserto, por exemplo. Uma tigela de água que se usa para salvar uma vida é mais valiosa do que uma tigela de água pousada no chão". O problema estava igualmente resolvido.

Quanto ao pedaço de sândalo, o velho homem apenas colocou-o na água. A cabeça, que por si é densa, submergiu; a ponta final, que é leve, flutuou. Mais um problema solucionado.

Para resolver o último problema, o sábio homem juntou algum feno de boa qualidade e colocou-o no chão, entre os dois cavalos. Um deles chutou o feno para o outro e o deixou comer primeiro. “Esta é a mãe!” – disse o velho.

Inteiramente satisfeito com as respostas, o Imperador livrou o reino da destruição. O rei tornou-se iluminado e, ajoelhando-se ante o Imperador, disse: "Posso compreender agora todo o sentido das provas a que meu reino foi submetido. Eu estava cego ao tentar escorraçar meus velhos cidadãos. Peço que me perdoe e abro as portas do meu reino para que todos os idosos voltem para suas casas!”

O Imperador Sakra, satisfeito, retornou para o Céu.

domingo, 30 de março de 2014

Diógenes e as Lentilhas

Estava o filósofo Diógenes comendo lentilhas quando viu o filósofo Aristipo, que vivia, confortavelmente, com base em lisonjear o rei.

E Aristipo disse-lhe:

“Se aprendesses a ser submisso ao rei, não terias que comer esse lixo de lentilhas".

Ao que Diógenes replicou:


“Se tivesses aprendido a comer lentilhas, não terias que bajular o rei".

(Autor: Anthony de Mello, filósofo indiano, psioterapeuta e padre jesuíta, conhecido por mesclar a doutrina judaico-cristã ao budismo)

Nossos Inimigos

Um ex-presidiário de um campo de concentração nazista foi visitar um amigo que havia compartilhado com ele tão penosa experiência.

”Já esqueceste os nazis?” – perguntou ao seu amigo.
“Sim”, disse ele.
“Pois eu não. Ainda continuo a odiá-los com toda a minha alma.”

Seu amigo disse-lhe calmamente:

“Então… ainda te manténs prisioneiro!”.

(Autor: Anthony de Mello, filósofo indiano, psioterapeuta e padre jesuíta, conhecido por mesclar a doutrina judaico-cristã ao budismo).

sábado, 8 de março de 2014

A Lei do Carma

Há cerca de oitocentos anos, havia um príncipe que tinha duas mulheres.

Amava as duas, mas elas não se entendiam e viviam às turras. As queixas constantes de ambas, suas cóleras, seu espírito mesquinho e invejoso, envenenavam a vida do príncipe.

Um dia, cansado de tudo, decidiu romper com suas ilusões e procurar as raízes do próprio ser, abandonando as mulheres, o rico palácio e todas as propriedades que possuía, para levar a existência simples de monge.

A primeira esposa seguiu lhe o exemplo e recolheu-se a um mosteiro feminino. A segunda, que estava grávida, deu à luz, após a partida do marido, a uma belíssima criança, filho dele.

Passaram os anos. Desde a mais tenra idade o filho não cessava de perguntar à mãe:

- Onde está papai? Por que não tenho pai?

E a mãe lhe explicava que ele havia desaparecido sem, contudo, satisfazê-lo. Depois de completar dezesseis anos, o desejo de encontrar o pai se tornou de tal ordem que ele resolveu partir à sua procura. Diante de tamanha insistência, a mãe, que acabara sabendo, afinal, que o príncipe se havia recolhido a um mosteiro da montanha sagrada de Koyasan, decidiu acompanhá-lo até esse lugar. Lá chegando, ela ficou esperando numa estalagem, pois a entrada do mosteiro era vedada às mulheres, enquanto o filho seguiu à procura do pai.

Passou-se o dia, a noite caiu e o garoto adormeceu entre dois troncos de árvores. Na manhã seguinte, uma voz despertou-o:

- Que estás fazendo aqui?

Era um monge alto, de traços altivos e suaves e crânio raspado, que lhe falava.

- Estou procurando meu pai.

- Ah! Mas quem é teu pai?

- É o príncipe de Kyushu, que vive nestas montanhas. É meu pai, quero encontrá-lo!

Conturbado, o monge compreendeu que tinha diante de si o filho único, em cujos traços reconheceu os seus e os da mãe. O coração pulsava tanto que se diria a pique de arrebentar. Quis apertar entre os braços o homenzinho que o fitava com o semblante triste e obstinado. Conteve-se, porém, e não se mexeu. Naquele tempo, as regras observadas pelos monges eram muito severas: quando um leigo decidia tomar a tigela, o bastão e vestir o kesa, tinha de cortar todo e qualquer laço com a existência anterior, sob pena de quebrar os preceitos.

Disse, então, brutalmente, o monge ao menino:

- Sim, teu pai vivia aqui, mas morreu na semana passada.

Os olhos do menino encheram-se de lágrimas e ele abaixou a cabeça, retornando tristemente à estalagem. Chegando lá, ficou sabendo que a mãe falecera, durante a noite, de repentino acesso de febre. Louco de dor, regressou com a escolta à cidade, esperando ver ali sua tia querida. Mas ela também acabava de morrer, vitimada pela epidemia.

Mais solitário do que nunca, sentindo que seu universo havia desabado, veio-lhe à mente o monge que encontrara no alto da montanha, no mosteiro onde a vida fluía mansa, ritmada pela meditação e pelas cerimônias. Voltou para lá. O monge, ao vê-lo surgir no pátio do templo, perguntou:

- Que estás fazendo aqui?

- Quero ser monge. Toda a minha família morreu, a vida já não tem sentido para mim, quero ficar convosco.

O monge compreendeu, então, que não podemos escapar ao nosso destino, ao nosso carma. Podemos talvez modificá-lo, mas ele nos segue sempre, sob uma forma ou outra.

E, assim, o filho se tornou discípulo do pai.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

O Tempo e a Esperança

Certa vez, um rei tirano e sem compaixão ameaçou mandar executar um dos súditos do seu reino, que havia cometido uma falta. Ao saber da sentença, o rapaz disse: 

- Espere! Se me deixar viver por mais um ano, vou ensinar seu cavalo a voar. 

O rei duvidou, mas respondeu: 

- Bem, o que tenho a perder?

O rapaz saiu e ouviu de um amigo: 

- Você está louco, não pode ensinar um cavalo a voar!

O homem condenado riu e respondeu: 

- Em um ano, meu amigo, tudo pode acontecer: o cavalo pode morrer, eu posso morrer, o rei pode morrer, ou posso realmente ensinar o cavalo a voar!

Moral da história: o tempo pode dar esperanças.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Monge e o Cesto de Bambu

Havia um monge que reunia seus discípulos e os convidava a subir com ele até o alto de uma montanha para rezarem juntos. Fazia isso todos os dias. 

Perto dali, logo abaixo, havia um rio com águas puras e cristalinas. Certa vez, um dos discípulos perguntou ao monge:

- Mestre, por que oramos todos os dias, se não conseguimos gravar as palavras em nossas mentes? Pouco me lembro do que oraamos ontem e já nem sei o que falamos há dez dias...

O monge, com a calma e a serenidade que são típicas dessas pessoas, pegou um cesto de bambu, que estava próximo dali, e o deu ao discípulo dizendo:

- Filho, vá até aquele rio e traga este cesto cheio d'água para mim.

(Todos nós sabemos que um cesto de bambu não pode reter a água).

O discípulo lá se foi... Ao voltar, com o cesto vazio, embora ainda molhado, o monge lhe perguntou o que ele havia concluído. E o discípulo respondeu:

- Mestre, um cesto de bambu não pode reter a água, porque ela escapa pelos furos...

- Só isso? - insistiu o monge - Então vá novamente ao rio e traga o cesto com mais água.

E o discípulo foi novamente... Ao voltar, o monge lhe perguntou o que ele tinha concluído e a resposta foi a mesma.

O monge pediu novamente para que ele repetisse a operação... E fez isso várias vezes... Depois de várias idas e vindas, finalmente o discípulo concluiu:

- Mestre, agora percebo uma diferença: o cesto está mais LIMPO do que antes!

Satisfeito com a conclusão, o monge acrescentou:

- Exatamente! O mesmo acontece conosco, quando rezamos. Muitas vezes esquecemos as palavras, mas com certeza ficamos mais 'limpos' e o nosso espírito é purificado a cada oração. Deus sempre nos dá conforto em meio à tristeza, paz em meio à tempestade, estabilidade em meio às mudanças, perdão em meio ao pecado e amor em meio ao ódio. Através da oração, nós nos fazemos DISPONÍVEIS PARA DEUS. 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Caridade Sábia

Dizem que um velho homem caminhava quando notou um menino que estava a alimentar alguns cães com pedaços de pão. Ele se aproximou do menino e perguntou-lhe por que estava a partilhar o pão com os cães. O menino respondeu:

"Porque eles não têm nada, sem lar, sem família, e se nós não os alimentarmos, irão morrer."

"Mas há cães desabrigados em toda parte", respondeu o velho homem. "Então seus esforços realmente não fazem diferença."

O menino olhou para o cão e acariciou-o. Foi então que respondeu para o velho homem:

"Mas para este pobre animal, para este pequeno anjo, faz toda a diferença no mundo."

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

A Samambaia e o Bambu

Um dia, um pequeno empresário decidiu que tinha o suficiente. Suficiente da carga de trabalho incessante, suficiente da falta de resposta, suficiente da solidão esmagadora. Ele entrou na mata para ter uma última conversa com o Criador.

"Criador", disse ele. "Você pode me dar uma boa razão para eu não entregar os pontos e desistir?"

A resposta o pegou de surpresa:

"Olhe ao seu redor. Você vê a samambaia e o bambu?"

"Sim", respondeu o homem.

"Quando eu plantei a samambaia e o bambu, eu cuidava muito bem deles. Não lhes deixei faltar água e nutrientes. Dei-lhes a luz do sol na primavera e os protegia das tempestades no Outono. A samambaia cresceu rapidamente da terra. Sua folhagem brilhante logo cobriu o chão da floresta. No entanto, nada veio da semente de bambu. Mas eu não desisti do bambu. No segundo ano, a samambaia cresceu ainda mais esplêndida do que antes, mas nada veio da semente de bambu. Mas eu não desisti do bambu. No terceiro ano, nada ainda da semente de bambu dar algo. Mas eu não iria desistir dela. No quarto ano, mais uma vez, não havia nada a partir da semente de bambu. Ainda assim eu não desisti. Então, no quinto ano um pequeno broto emergiu da terra. Em comparação com a samambaia era aparentemente pequena e insignificante. Mas dia após dia o broto cresceu. Primeiro um fiozinho, depois foi tomando corpo e dentro de seis meses, a cana de bambu tinha subido a uma altura de 50 metros. Ele tinha passado os cinco anos criando e fortalecendo as raízes. Essas raízes o tornaram forte e deram-lhe o que precisava para sobreviver.”

E concluiu:

“Eu não daria a nenhuma das minhas criações um desafio que não pudesse suportar. Você sabia, meu filho, que todo esse tempo você tem se esforçado, tem crescido? O crescimento das raízes que você precisava para produzir os seus frutos. Eu não desisti do bambu. Eu não vou desistir de você. Não se compare com os outros. Todas as minhas criações têm finalidades diferentes, viagens diferentes e calendários diferentes. O bambu tinha um propósito diferente do da samambaia. No entanto, ambos fazem uma bela floresta. Seu tempo virá. Você vai subir alto".

"Quão alto eu deveria subir?" – Perguntou o homem.

"Quão alto será o aumento do bambu?"– Perguntou o Criador em troca.

"Tão alto quanto ele pode?"– O homem questionou.

"Sim", respondeu o Criador. "Dá-me a glória de subir tão alto quanto você puder."


O pequeno empresário deixou a floresta. E nunca mais voltou.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Oração e Esforço

Um devoto de Hanuman, certa vez, conduzia uma carroça de grãos ao mercado.

No caminho, uma roda ficou presa e a carroça não podia se mover para frente. A carroça inclinou-se demais e alguns sacos caíram no chão.

O devoto sentou-se na carroça e começou a orar para Hanuman. Ele concluía entoando os 108 nomes e até mesmo os 1008 nomes. Quando nada aconteceu, ele começou a culpar e a insultar o Senhor por não resgatá-lo.

Hanuman, então, apareceu e o repreendeu!

“Jovem, em vez de fazer seu dever, aplicando sua força no trabalho, você se sentou lá, orou e começou a insultar-Me! Vamos lá, coloque seu ombro na roda e levante-a, cantando Meu nome! Primeiro contribua com esforço próprio”, disse o Senhor. Você deve usar todos os talentos que lhe foram atribuídos, em um clima de oração e humildade. Antes disso, você não tem o direito de procurar a ajuda e a intervenção do Senhor.”

(Sathya Sai Baba)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Isto Passará

Um praticante foi até o seu professor de meditação, tristemente, e disse: 

- Minha prática de meditação é horrível! Ou eu fico distraído, ou minhas pernas doem muito, ou eu constantemente fico com sono. É simplesmente horrível!!!

- Isto passará - o professor disse suavemente.


Uma semana depois, o estudante retornou ao seu professor, eufórico:

- Minha prática de meditação é maravilhosa! Eu sinto-me tão consciente, tão pacífico, tão relaxado, tão vivo! É simplesmente maravilhoso!!!

O mestre disse tranquilamente:

- Isto também passará.