sexta-feira, 27 de março de 2015

Tudo Flui e Tudo Muda

Aconteceu de um homem procurar Buda e insultá-lo — deu-lhe um tapa no rosto.

Buda passou a mão pelo rosto e perguntou ao homem: "Tem algo mais a dizer?" — como se ele tivesse dito alguma coisa.

O homem ficou confuso, porque não esperava uma resposta dessas. Foi embora. No dia seguinte voltou novamente, pois não conseguira dormir durante toda a noite. Sentiu que havia feito alguma coisa errada e se sentia culpado.

Na manhã seguinte, chegou, caiu aos pés de Buda e disse: "Perdoe-me."

E Buda disse:

"Quem irá perdoá-lo agora? O homem que você agrediu não está mais aqui... E o homem que veio aqui para agredir também não está — assim, quem perdoará quem? Esqueça isso, agora nada mais se pode fazer.... O que aconteceu não pode ser desfeito — acabou... Porque não há ninguém... as duas partes estão mortas... O que se pode fazer? Você é um homem novo e eu sou um homem novo."

A mensagem mais profunda de Heráclito é esta:

Tudo flui e tudo muda; tudo se move, nada é estático... E quando você se apega a alguma coisa, perde a realidade.

Apegar é o problema, pois a realidade muda e você não flui com ela.

(Do livro A Harmonia Oculta - Fragmentos de Heráclito, Osho)

domingo, 15 de março de 2015

O Homem que Quebrava Pedras

Era uma vez um homem muito simples, que ganhava a vida com uma profissão simples, quebrando pedras. Sua vida corria igualmente simples, até o dia em que ele passou defronte da rica mansão de um homem de negócios. Ao vislumbrar aquele luxo, ele permitiu que o ego invejoso viesse à tona e desejou, do fundo do coração, ser igual ao dono daquela casa.

A fada dos desejos captou seu desejo e, imediatamente, transformou o homem simples num próspero e rico comerciante, cercado de todas as mordomias e opulências que ele jamais sonhara em toda a sua vida.

Muito satisfeito, ele seguiu vivendo até se deparar com um oficial do alto escalão do governo, sendo levado numa liteira de seda por vários empregados submissos, e ainda escoltado por soldados que faziam a sua guarda, afastando a plebe, enquanto todos se curvavam à passagem do poderoso homem.

Imediatamente, o pensamento de inveja voltou à mente do ex-simples homem: “Que poder tem este oficial! Eu também queria muito ser um alto oficial!”

E a fada dos desejos agiu de novo, transformando o então comerciante num oficial do governo, sendo carregado pelos subalternos. Ocorre que era um dia muito quente de verão, de um calor insuportável. O novo oficial, sentindo-se desconfortável, olhou para o sol que refulgia em toda a sua majestade, indiferente à sua insignificante presença lá embaixo.

E o homem pensou: “Ah, poderoso mesmo é o sol! Gostaria muito de ser como ele!”

E – tão rápido como a velocidade da luz, o oficial tornou-se o próprio sol, seguindo sua trajetória pelo espaço e lançando seus raios sobre a terra. Até que, um dia, uma gigantesca nuvem escura se interpôs entre o sol e a terra, levando o sol a pensar que o seu poder não era tão grande quanto o poder daquela nuvem. E ele desejou ser nuvem e transformou-se em nuvem.

Foi feliz como nuvem até ser arrastado por uma ventania forte, de tal força que contra ela a nuvem nada podia fazer. E assim, a nuvem desejou ser o vento e nova metamorfose se fez.

Poderoso, soprou, como um furacão, todas as coisas abaixo e ao redor dele, destelhando casas, derrubando árvores. E prosseguiu, orgulhoso, seu caminho, espalhando temor por onde passava, até que se deparou com algo cuja fortaleza era tão grande, mas tão imensa mesmo, que deixava-a imóvel, sem se mover um milímetro sequer, por mais que o vento tentasse: era uma gigantesca rocha.

Uma vez mais, a inveja apossou-se do vento, fazendo-o desejar ser igual àquela magnífica rocha. E uma vez mais, a fada dos desejos intercedeu em seu favor, e o vento transformou-se numa bela e imensa rocha.

Sentiu-se, então, eterno, pairando acima de tudo, forte e inamovível. Então, ouviu o som de alguma coisa perturbando a sua paz, batendo em sua base. Olhou para baixo e sentiu o seu poder ser despedaçado, desmoronando pedra por pedra. Pensou: “Mas quem pode desafiar o meu poder e a minha fortaleza?”

Foi quando a rocha viu aquela figura minúscula: um simples homem, com seu cinzel, quebrando pedras.