terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O Ego e o Sorvete

“A felicidade não é algo que se tenha que adquirir. Você é sempre a felicidade. Esse desejo nasce da sensação de estar incompleto. Para quem existe essa sensação de estar incompleto? Investigue. Você está feliz quando dorme profundamente. Agora não está. O que interferiu entre essa felicidade e esta infelicidade? O ego. Procure a sua origem e descubra que você é a Felicidade.”

(Ramana Maharshi)

Um teste para o ego com sabor de chocolate

Joel havia chegado já fazia três anos a uma das comunidades budistas mais antigas do Tibete, e ali almejava ser treinado para se transformar em um monge exemplar.

Todos os dias, na hora do jantar, perguntava ao seu mestre se no dia seguinte aconteceria a cerimônia da sua ordenação. “Você ainda não está pronto, primeiro precisa trabalhar a humildade e dominar o seu ego”, respondia o seu mentor.

Ego? O jovem não entendia por que o mestre se referia a seu ego. Achava que merecia ascender no seu caminho espiritual já que meditava sem cessar e lia diariamente os ensinamentos de Buda.

Um dia, o mestre imaginou um jeito de demonstrar aos seu discípulo que ele ainda não estava pronto. Antes de iniciar a sessão de meditação anunciou: “Quem meditar melhor terá como prêmio um sorvete”. De chocolate”, acrescentou o ancião.

Logo após um breve alvoroço, os jovens da comunidade começaram a meditar. Joel queria ser o melhor a meditar dentre todos os seus colegas. “Dessa forma, mostrarei ao mestre que estou preparado para a cerimônia. E poderei tomar o sorvete”, concluiu o discípulo.

Joel conseguiu se concentrar na sua respiração, mas ao mesmo tempo visualizava um grande sorvete de chocolate que ia e vinha como se estivesse em um balanço. “Não é possível, preciso parar de pensar no sorvete ou outra pessoa vai ganhá-lo”, repetia para si mesmo.

Com muito esforço, Joel conseguia meditar por alguns minutos nos quais simplesmente seguia o compasso da sua respiração, mas logo em seguida imaginava um dos monges tomando o sorvete de chocolate. “Droga! Sou eu que preciso conseguir esse sorvete!”, pensava o jovem angustiado.

Quando a sessão acabou, o mestre explicou que todos tinham feito bem a tarefa, exceto alguém que havia pensado demais no sorvete, isto é, no futuro. Joel se recompôs antes de falar:

– Mestre, eu pensei no sorvete. Eu admito. Mas como você pode saber que fui eu quem pensou demais?

– Não tenho como saber. Mas posso ver que você se sentiu tão afetado a ponto de se levantar e tentar se colocar por cima dos seus colegas. Assim, querido Joel, é que age o ego: sente-se atacado, questionado, ofendido… e quer ter sempre razão no jogo de ser superior aos outros.

Naquele dia, Joel aprendeu que ainda tinha um longo caminho a percorrer. Trabalhou a sua humildade e os impulsos do ego. Viveu no presente e procurou não ficar por cima dos outros. Também entendeu que não lhe convinha se identificar com suas conquistas.

Assim, com trabalho e paciência, chegou o grande dia. Foi aquele no qual o mestre bateu à sua porta para lhe anunciar que finalmente estava preparado para o que tanto havia almejado.

Quando chegou no templo não encontrou ninguém ali. Apenas uma pequena plataforma e sobre ela… um sorvete de chocolate. Joel pôde apreciar o sorvete agradecido, sem se sentir decepcionado. E em seguida, foi ordenado monge.

Cada pessoa tem o seu próprio sorvete de chocolate: aquilo que almeja alcançar. O problema está em ter a mente posto nele, nos impedindo de desfrutar o presente.

Tendemos a confundir nossas conquistas com nosso valor e a nos identificarmos com elas. O ego se encarrega de nos empurrar a desejar ficar acima dos outros e a nos ofendermos se alguém nos aponta algum erro.

Se conseguirmos detectar nosso próprio ego e desativá-lo, automaticamente abandonamos a necessidade de criticar, discutir, competir ou julgar. Assim, nos desfazemos do papel de vítimas, do sofrimento que representa não cumprir com as demandas do ego… E conseguiremos desfrutar dos sorvetes!

Fonte:

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Servir

Havia um rei que perguntava aos sábios e eruditos que chegavam à sua corte: “Qual é o melhor serviço e qual é o melhor momento para fazê-lo?” Durante muito tempo não pôde obter nenhuma resposta satisfatória.

Um dia, enquanto perseguia as forças de um rei rival, se viu separado de suas tropas, na espessa floresta; cavalgou um bom tempo, cansado e faminto, até que chegou a uma capela. Ali havia um velho monge que o recebeu bondosamente e lhe ofereceu uma vasilha com água fresca. Depois de um breve descanso, o rei formulou ao anfitrião a pergunta que o atormentava: “Qual é o melhor serviço?” O eremita disse: “Dar a um homem sedento uma vasilha com água”. “E qual é o melhor momento para fazê-lo?” A resposta foi: “Quando ele vem de longe e sozinho buscando algum lugar para obtê-la”.

O ato de serviço não deve ser julgado pelo seu custo ou por sua publicidade; pode ser apenas o oferecimento de um pouco d’água no interior de uma floresta.

A necessidade de quem recebe, a atitude de quem oferece - é isto que decide se a ação é de ouro ou de chumbo.

(Sathya Sai Baba – extraído do Eterno Condutor, setembro de 1990)

"Qual é o melhor serviço" é uma dúvida que muitos têm. Algumas pessoas ficam esperando aparecer algo grandioso para poder se sentir servindo. E enquanto esse algo grandioso não aparece, ficam sem fazer nada...

Tudo é serviço. Quando o buscador se oferece como cocriador do Plano Divino, torna-se um servidor até mesmo quando está - aparentemente - sem fazer nada. Porque há várias formas de se ficar sem fazer nada. Pode-se dar asas à imaginação e ficar ruminando coisas que já passaram ou coisas que virão, por exemplo. E pode-se utilizar a imaginação criativa para estar sempre alerta, vigiando os pensamentos e produzindo mentalizações positivas!
O que importa, no fundo, não é o que se está fazendo - é como se está fazendo. A mais simples das tarefas pode ser enfadonha ou repetitiva e pode ser transformada em meditação . O que muda é a atitude de quem a faz.

A vida é inteligente e vai nos colocando situações com as quais precisamos lidar. Não adianta se revoltar com as situações. Quanto mais nos revoltamos, mais situações parecidas aparecem. O buscador inteligente é aquele que sabe transformar as situações simples do cotidiano em algo grandioso. Se no momento a tarefa é simples como lavar um prato, ele estará presente ali, fazendo o melhor que pode. Isto é serviço.