quarta-feira, 30 de maio de 2012

Onde Você Coloca o Sal?


O velho Mestre, vendo seu aprendiz triste com uma expressão sofrida no rosto, pediu-lhe que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.
- Qual é o gosto? - perguntou o Mestre.
- Ruim - disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.
Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago. Então o velho disse:
- Beba um pouco dessa água. 
Enquanto a água escorria pelo queixo do jovem, o Mestre perguntou:
- Qual é o gosto?
- Bom! - disse o rapaz.
- Você sente o gosto do sal? - perguntou o Mestre.
- Não - disse o jovem.
 O Mestre então se sentou ao lado do jovem, segurou suas mãos com delicadeza e disse:
- A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é ampliar o sentido de tudo o que está a sua volta. É dar mais valor ao que você tem do que ao que você perdeu. Em outras palavras: É deixar de ser copo, para tornar-se um lago.

Entender os desígnios de Deus não é possível para a mente humana, mas crer que Ele está no comando e tem um plano para a nossa vida faz a caminhada valer a pena.
Não esquecer: deixar de ser copo para tornar-se um lago. Só assim mergulharemos no oceano divino de bem-aventurança.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Anel

(Conto Sufi)

Havia um rei muito poderoso que tinha tudo na vida, mas vivia inquieto, confuso. Resolveu então consultar os sábios do reino. Disse-lhes:
- Não sei por que, sinto-me estranho e preciso ter paz de espírito. É uma contradição, mas, quando estou alegre, sinto lá no fundo que falta alguma coisa. E sempre me desespero quando fico triste, como se o mundo fosse acabar amanhã. Não estou entendendo...
Os sábios resolveram dar um anel ao rei, desde que ele aceitasse certas condições. Debaixo do anel havia uma mensagem, mas o rei só deveria abrir o anel quando estivesse passando por um momento intolerável. Se abrisse apenas por curiosidade, a mensagem perderia seu significado.
Quando tudo estivesse perdido, a confusão fosse total, acontecesse a agonia e nada mais pudesse ser feito, aí o rei deveria abrir o anel. Ele jurou a si mesmo que seguiria o conselho.

Um dia o país entrou em guerra e perdeu. Houve vários momentos em que a situação ficou terrível, mas o rei não abriu o anel porque ainda não era o fim. O reino estava perdido mas, quem sabe, poderia recuperá-lo. Fugiu do reino para se salvar.
O inimigo o seguiu, mas o rei cavalgou até perder os companheiros e o cavalo. Seguiu a pé sozinho e os inimigos atrás, tanto que era possível ouvir o tropel dos cavalos. Os pés sangravam, mas ele tinha de continuar a correr.
O inimigo foi-se aproximando e o rei, quase desmaiado, chegou à beira de um precipício. Os inimigos cada vez mais perto e não há saída, mas o rei ainda pensa: “Estou vivo, talvez eles mudem de direção, a condição não está preenchida”.
O rei olha para o abismo e vê leões lá embaixo, não tem mais jeito. Os inimigos o estão alcançando, então o rei abre o anel e lê a mensagem:

ISTO TAMBÉM PASSARÁ.

Aí ele relaxa. Isto também passará. De uma forma natural, sem que o rei entendesse bem por que, o inimigo mudou de direção.
O rei voltou a casa e, tempos depois, reuniu seus exércitos e reconquistou seu país. Houve grande festa, o povo dançou nas ruas e o rei ficou felicíssimo, chorou de tanta alegria, mas aí lembrou-se novamente do anel e da mensagem:
- Isto também passará.
Novamente relaxou e assim obteve a sabedoria e a paz de espírito.

Sempre que você se encontrar diante de vastas emoções, seja ódio, grande tristeza, superfelicidade, forte preocupação com o próprio bem-estar ou o da família, e até mesmo num momento de beatitude, lembre-se: - Isto também passará. O ódio não será ódio, a felicidade não será felicidade, a tristeza não existirá, nem a preocupação – você estará vivendo apenas uma fase, um instante, um momento como tantos na poeira do Tempo.
Ódio, tristeza, preocupação, felicidade não são você. São visitas que vêm e vão. São acidentes, ou alguma coisa ao seu redor, mas não têm nada a ver com você intelecto, eu superior, semente inteligente de vida, pedaço desgarrado do Espírito de Deus.
Se você se lembrar sempre que isto também passará, ficará à parte disto, do que for, e permanecerá intacto. A miséria vem. Deixe que venha, ela passará. A riqueza vem. Que venha, ela também passará.
Estará criada, então, uma grande distância entre você e seus diversos estados de espírito. Você não mais se identificará com eles, apenas os observará. Não se envolverá, será um espectador.
Perceba agora este silêncio profundo que está descendo sobre você. Não é um silêncio forçado, mas um silêncio que tem algo de divino. Porque nada mais o pode abalar, nada. Felicidade e infelicidade, vitória e derrota, gozo e dor passam a ser a mesma coisa.
Quando a felicidade chegar, ela será felicidade, mas seu afastamento não provocará seu próprio reverso nem sua própria negação. Que bom que a felicidade chegou, mas esse é apenas um momento a ser vivido. O mesmo ocorrerá com a infelicidade.
Por isso, quanto maior a distância que você guardar delas, maior a sensação de consciência, de segurança, de abrangência, de visão panorâmica da vida. Você estará matando o seu equivocado EU e se preparando para mais uma ressurreição.
O velho tem de ceder lugar ao novo, como um ano novo que se inicia. Deixe que se afastem as velhas atitudes, os velhos conceitos, sua velha identidade – e dê lugar ao Novo. O Novo está aí, à sua espera. Mas nem sempre existe espaço em você para que ele realmente venha. Crie seu espaço.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Podemos, se Acreditarmos


Este conto nos dá uma oportunidade fantástica para reflexão. Uma reflexão sobre o condicionamento humano. Desde crianças, ouvimos sem cessar advertências como: "Você não vai conseguir"; "Não, você não pode"; e assim por diante. Vamos então nos acostumando à idéia de incapacidade, algumas pessoas mais do que as outras. E prosseguimos nos desculpando a nós mesmos por não nos esforçarmos. 
Se realmente tivéssemos fé, compreenderíamos, não com a mente, mas com o coração, que não existe o impossível. 
O Divino está sempre pronto a nos ajudar. Mas Ele só ajuda quando esgotamos nossas possibilidades. Ele só vem quando percebe que houve esforço, empenho, coragem.
Para quem ainda não acredita nas verdades do espírito, a Física Quântica está, gradativamente, abrindo os horizontes do homem, com suas novas e estonteantes descobertas. 


"A única coisa 'sólida' na minha realidade é a percepção que tenho dela. Se eu me dispuser a abrir os olhos a novas possibilidades, minha realidade poderá mudar." (Betsy Chasse)
Reflitamos...

Diz o antigo conto que, certa vez, estavam duas crianças patinando num lago congelado.
Era uma tarde nublada e fria e as crianças brincavam despreocupadas.
De repente, o gelo se quebrou e uma delas caiu, ficando presa na fenda que se formou.
A outra, vendo o amiguinho preso e quase congelando na água gélida, rapidamente tirou um dos patins
e começou a golpear o gelo com todas as suas forças, conseguindo por fim quebrá-lo e libertar o amigo.
Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino:
- Como você conseguiu fazer isso? É impossível que tenha conseguido quebrar o gelo, sendo tão pequeno e com mãos tão frágeis!
Naquele momento, um ancião, que passava pelo local, disse:
- Eu sei como ele conseguiu.
Todos perguntaram:
- Pode nos dizer como?
- É simples - respondeu o velho - não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não seria capaz.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O Real Aprendizado


Um erudito altamente educado tinha que cruzar um largo rio, para comparecer a uma importante reunião. O vento e a correnteza do rio estavam em sentidos opostos e, dessa maneira, a viagem estava bastante lenta naquele dia. Atualmente, os eruditos possuem o hábito de falar constantemente, seja com eles mesmos – repetindo os versos das escrituras – ou seja com qualquer outra pessoa que esteja, facilmente, dentro do alcance de suas vozes. Naquele dia, particularmente, o barqueiro estava silenciosamente concentrado no ato de dirigir o barco pelo rio. O erudito, que era o único passageiro a viajar no barco, não tinha mais com quem falar e, assim, começou a conversar com o barqueiro.
O erudito perguntou: “Você sabe ler e escrever”?
O barqueiro respondeu: “Não, eu não sei ler nem escrever”.
“Você parece uma pessoa bastante estranha”, disse o erudito. “Nos dias de hoje, em cada vila, o governo estabeleceu escolas, e você deveria saber, ao menos, um pouco de leitura e escrita.”
Para passar o tempo, o erudito continuou conversando com o barqueiro. Em seguida, ele perguntou: “Você sabe tocar algum instrumento musical”?
O barqueiro respondeu: “Swami, eu não tive chance de aprender a tocar um instrumento”.
O erudito perguntou: “Bem, mas você conhece algumas das canções populares mais recentes”?
“Não, nem isso eu sei”, respondeu o barqueiro.
“Que pessoa esquisita você é! Em cada rua, há um cinema e um auto-falante ao redor, tocando os últimos sucessos. As emissoras de rádio estão repletas de gravações populares atuais. Você não deveria, ao menos, pegar um pouco da sua renda e comprar um rádio transistor barato, para escutar música?”
O barqueiro confessou: “Eu nem mesmo sei o que é um transistor”.
O erudito respondeu: “Se, nesta era moderna, você não conhece nem mesmo um transistor, você desperdiçou muito de sua vida; pelo menos, um quarto de sua vida foi despejado dentro d’água”. Ele fez uma outra pergunta ao barqueiro: “Você tem um jornal”?
O barqueiro respondeu: “Eu não tenho instrução alguma. Qual, então, a utilidade de eu ter um jornal, Swami”?
O erudito continuou: “Sem ter instrução e sem poder ler um jornal, você já desperdiçou ainda mais a sua vida. Pelo menos, a metade de sua vida foi despejada dentro d’água”.
Após alguns minutos, o erudito perguntou outra vez: “Você tem um relógio? Pode me dizer que horas são”?
O barqueiro respondeu: “Swami, na verdade eu nunca soube como ver as horas. Então, para que eu teria um relógio”?
O erudito replicou: “Veja o quanto de sua vida foi perdido. Se você não tem um rádio para apreciar a música, se você não pode ler um jornal para saber o que está acontecendo, se você não sabe nem mesmo que horas são, então três quartos de sua vida foram despejados na água”.
Nesse momento surgiu um forte vento, que rapidamente se transformou num poderoso vendaval. O barco começou a balançar de um lado para o outro, e o rio, em pouco tempo, era uma corredeira só. O barqueiro não podia mais manter o controle do barco por muito tempo. Ele perguntou ao erudito: “Swami, o senhor sabe nadar”? O erudito respondeu: “Não, eu nunca aprendi a nadar”.
Como estava prestes a cair na água, o barqueiro disse ao erudito: “Oh, Swami. Que pena! Que desperdício! Você não sabe nadar? Agora, sua vida inteira será despejada dentro d’água”.

Ao viajar através de um rio turbulento, você deve saber nadar. Sem saber nadar, todos os demais conhecimentos que possui sobre filosofia, física, química, botânica, comércio, matemática, ciência política, etc. serão inúteis. Na jornada da vida, você está viajando num rio caudaloso e imprevisível, e você deve saber como boiar e cruzar este rio. Para nadar com segurança pelo rio da vida, você deve ter o conhecimento do Atma e desenvolver um forte poder de discriminação, para saber o que é útil e o que é inútil para cruzar este rio. Se você não desenvolver uma capacidade dentro destas linhas, não haverá maneira alguma de encontrar realização na vida. Você irá se afogar no rio da vida mundana.

(Sai Baba Gita, págs 185 e 186)