quinta-feira, 24 de abril de 2014

O Rei e os Idosos

Buda, certa vez, contou o seguinte:

Havia um rei que não gostava dos idosos. Considerava que eles eram um estorvo ao país. Assim, assinou um decreto determinando a deportação de todas as pessoas acima de 60 anos. E todo aquele que descumprisse o decreto teria de sofrer severas punições.

Ocorre que um dos seus súditos não teve coragem de mandar seu próprio pai embora e decidiu mantê-lo escondido, numa caverna subterrânea, levando para ele, todos os dias, água e comida. O velho pai, que era um homem sábio, passava o tempo de forma tranquila, lendo as escrituras budistas.

Ao tomar conhecimento do decreto desumano do malvado rei, o Imperador Sakra (o Rei do Céu no Budismo) decidiu enviar uma mensagem ao rei. Esta mensagem continha uma lista de problemas que ele deveria solucionar, sob pena de perder o reino para sempre. Os problemas eram:

O mensageiro do Céu colocou duas cobras em frente ao Palácio e pediu ao Rei que distinguisse a cobra masculina da cobra feminina; depois, ele deu um elefante ao Rei, pedindo-lhe que dissesse o seu peso; daí, colocou uma tigela com água pura em frente ao Palácio e pediu ao Rei que encontrasse outra tigela de água mais valiosa do que aquela; mostrou um pedaço de sândalo e pediu ao Rei para definir onde está a cabeça e o fim daquela madeira; por último, o mensageiro trouxe dois cavalos brancos idênticos, para que o rei dissesse quem era a mãe entre os dois.

Imediatamente, o rei convocou todos os seus oficiais, para ajuda-lo a solucionar os enigmas, mas nenhum deles foi capaz de resolvê-los. Havia um prazo e o rei, preocupado, espalhou cartazes por todo o reino, prometendo recompensas a quem o ajudasse a descobrir as respostas certas.

No último dia do prazo, quando o próprio Imperador Sakra apareceu para determinar o destino do rei, o súdito cujo pai idoso estava escondido, apresentou-se e disse: “Meu pai tem as soluções”. Autorizado pelo imperador, o velho homem aproximou-se.

Para distinguir a cobra masculina da feminina, o homem sábio colocou-as num pedaço de tecido bem macio. Uma delas começou a se mostrar incomodada e tentou escapar. "Esta deve ser a cobra masculina. A outra, que está quieta, é a feminina", disse o velho pai. Problema número um resolvido.

Daí, o velho pediu que o elefante fosse conduzido para dentro de um barco, num rio próximo. O barco afundou um pouco, mas estabilizou-se. Ele fez uma marca da altura da água no lado do barco e deixou o elefante sair dele. Em seguida, foi enchendo o barco de pedras até que elas atingissem a marca feita anteriormente. Então, colocou as pedras na balança e pôde, assim, determinar o peso do elefante. Segundo problema resolvido.

Para solucionar o problema da tigela de água, o velho pai disse: "Tudo o que tenho a fazer é pegar qualquer outra tigela de água e dá-la a alguma pessoa sedenta, como um viajante num deserto, por exemplo. Uma tigela de água que se usa para salvar uma vida é mais valiosa do que uma tigela de água pousada no chão". O problema estava igualmente resolvido.

Quanto ao pedaço de sândalo, o velho homem apenas colocou-o na água. A cabeça, que por si é densa, submergiu; a ponta final, que é leve, flutuou. Mais um problema solucionado.

Para resolver o último problema, o sábio homem juntou algum feno de boa qualidade e colocou-o no chão, entre os dois cavalos. Um deles chutou o feno para o outro e o deixou comer primeiro. “Esta é a mãe!” – disse o velho.

Inteiramente satisfeito com as respostas, o Imperador livrou o reino da destruição. O rei tornou-se iluminado e, ajoelhando-se ante o Imperador, disse: "Posso compreender agora todo o sentido das provas a que meu reino foi submetido. Eu estava cego ao tentar escorraçar meus velhos cidadãos. Peço que me perdoe e abro as portas do meu reino para que todos os idosos voltem para suas casas!”

O Imperador Sakra, satisfeito, retornou para o Céu.