quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Uma Visão do Senhor Krishna


Um dia Mejda estava falando com um colega de aula. Ele sempre estava tentando despertar nos outros o mesmo entusiasmo que sentia por Deus.

Seu amigo estava claramente interessado, mas cético. Mejda estava afirmando que Deus poderia aparecer a qualquer um que fosse suficientemente sincero e persistente.

O amigo queria participar da fé de Mejda e, assim, concordou em parte com ele: “Bom, talvez em um futuro distante – ou na próxima encarnação –, eu tenha a capacidade de entender a verdade da qual você fala”.

“Por que falar do futuro? Por que não O achar agora?”, Mejda insistiu. “Se um devoto pede de todo o coração: ‘Senhor Deus, o Senhor precisa vir a mim’, Ele por certo aparecerá.

Quando a prece do devoto irradia um desejo sincero do seu coração até cada átomo do universo, onde poderá Deus se esconder? Ele terá de Se revelar.”

A fé de Mejda era contagiosa. Ele viu suas fagulhas acendendo uma chama na mente de seu amigo também. E assim continuou: “Se nesta mesma noite nós tentarmos sinceramente ver Deus como o Senhor Krishna, Ele aparecerá nessa forma”.

A perspectiva de ver Krishna naquela mesma noite, para o colega de Mejda, subitamente parecia não somente possível, mas emocionantemente provável. Os dois combinaram de se encontrar na casa de Mejda naquela noite. Eles meditariam até que Krishna aparecesse.

As sombras da noite que se aproximava cobriam a terra quando os dois amigos decididos entraram no quarto de meditação de Mejda.

Eles trancaram a porta por dentro, sentaram-se em posição de lótus sobre kusha de chão para asanas (pequenos tapetes para meditar) e, com entusiasmo divino, começaram a cantar, rezar e meditar.

Os rapazes que meditavam foram envolvidos por uma paz transcendental.

A face de Mejda irradiava um brilho intenso enquanto ele cantava hinos e preces para o Senhor Krishna.

Nos momentos de quietude, esses ardentes devotos praticavam meditação com pranayama.Seus corpos e mentes ficaram imóveis enquanto, paciente e persistentemente, eles ofereciam preces interiores ao Bhagavan.

Pelo seu fervor, o quarto escuro se tornou divinamente iluminado; a alegria impregnava a expectativa deles. Enquanto o resto da cidade dormia, os jovens continuavam despertos pelo desejo espiritual.

Por toda a noite, os dois ansiosos corações fundiram-se em um só, em íntimos cantos e orações de amor ao Senhor.

Mas, quando a manhã chegou, o companheiro de Mejda começou a sentir cansaço e dúvida: “Mukunda, talvez nós tenhamos nos enganado. Deus não vem com tanta facilidade”.

“Não devemos desistir. Concentre-se mais profundamente. Ele responderá ao clamor das nossas almas”, disse Mejda.

Depois de mais um período de esforços renovados, seu amigo suspirou com desânimo: 

“Não há esperança, Mukunda. Está quase amanhecendo. Vamos ver se dormimos um pouco”.

“Vai você se quiser; eu não vou desistir”, respondeu Mejda com firmeza. “Mesmo que morra sentado aqui, não vou me mexer até que Deus venha.”

De repente, Mejda engoliu a respiração. Seu corpo ficou rígido sob o êxtase da visão. Sua face brilhou com um sorriso de encantadora doçura. Ele bradou: “Eu O vejo! Eu vejo Krishna!”

Para o amigo de Mejda, faltava visão espiritual, bem como determinação. “Onde está Ele, Mukunda? Não consigo vê-Lo.”

Mejda estendeu a mão e a colocou sobre o coração do seu cético amigo. O toque magnético de Mejda transferiu a visão beatífica. “Oh! Eu vejo Krishna. Eu agora O vejo, Mukunda!”

Lágrimas rolaram dos olhos deles. Com humildade, os dois garotos se inclinaram diante do Bhagavan.

“Amado Krishna”, Mejda suplicou, “a humanidade sofredora não mais ouve a doce melodia de sua flauta, tocada nas margens do rio Jamuna. Sua melodia encantadora, de amor divino, envolvia a todos: pássaros, animais e humanos. Por favor, toque sua música celestial nos corações dos seres humanos mais uma vez, para que eles possam ver a luz da salvação. Abençoe minha sadhana! Aceite minha devoção! Eu vos reverencio!”

Bhagavan Krishna sorriu e ergueu as mãos em bênção; em seguida desapareceu nos raios do sol nascente.

(Esta história foi contada por Sri Sananda Lal Ghosh, irmão mais novo de Paramahansa Yogananda, que o chamava de Mejda quando ele ainda era uma criança. Trecho do livro Mejda, da Self Realization Fellowship)