Quando eu era jovem, adorava andar de barco. Eu
tinha um barquinho e remava sozinho num lago. Eu ficava ali durante horas.
Uma vez, eu estava no meu barco, de olhos fechados,
meditando, numa noite esplêndida. Então outro barco veio flutuando, trazido
pela corrente, e bateu no meu.
Meus olhos estavam fechados, então eu pensei: alguém
bateu o barco no meu. Enchi-me de raiva. Abri os olhos e estava a ponto de
vociferar algo para o homem, quando percebi que o barco estava vazio!
Então não havia onde descarregar a minha raiva. Em quem
eu iria extravasá-la? O barco estava vazio, à deriva no lago e tinha colidido
com o meu. Então não havia nada a fazer. Não havia possibilidade de projetar a
raiva num barco vazio.
Eu fechei os olhos. A raiva estava ali. Mas não sabia
como extravasar. Eu fechei os olhos simplesmente e flutuei de volta com a
raiva. E esse barco vazio tornou-se a minha descoberta.
Eu atingi um ponto dentro de mim naquela noite silenciosa. Esse barco vazio foi
meu mestre. E, se agora alguém vem me insultar, eu rio e digo: esse barco
também está vazio.
Fecho os olhos e mergulho dentro de mim.
(Osho e o barco, de Chuang Tzu)