domingo, 15 de outubro de 2017

Quando o Discípulo Supera o Mestre

Um professor de Zen, após anos como orientador de um aluno particularmente sensível e sábio, resolveu lhe dar um presente:

“Estou ficando velho, em breve morrerei. Para simbolizar sua sucessão a mim como mestre vou lhe dar este livro valiosíssimo.”

O discípulo, entretanto, não estava interessado em livros:

“Não é necessário, obrigado, mestre. Eu aceitei o seu ensinamento como o Zen que prescinde a palavra escrita. Gosto de sua face original. Fique com seu precioso livro.”

O professor insistiu, e afirmou, orgulhoso:

“Este livro atravessou sete gerações, é uma relíquia! Por favor, fique com ele como um símbolo de sua aceitação do manto e da tigela!”

O outro apenas disse:

“Está bem, dê-me o livro.”

Ao recebê-lo, o discípulo simplesmente atirou o livro no fogo próximo, queimando-o. O
professor ficou chocado. Gritou para o aluno, indignado:

“Como pôde fazer isso?! Era uma peça inestimável de conhecimento!”

Foi a vez do sábio discípulo ficar indignado:

“Como podes dar mais valor a papel e couro do que àquilo que me ensinastes diretamente, de forma pura? Ensinar uma sabedoria que não se pode praticar é como agir sem coração, e não ser nada mais do que um repetidor de textos sagrados. Tu me deste um objeto, e eu usufrui dele como considerei adequado. Como podes ficar indignado com um simples ‘dar e receber’?"

https://anovamente.wordpress.com/2017/08/17/conto-zen-dar-e-receber/

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Como Mudar O Mundo

Conto para o Dia das Crianças:

Era uma vez um cientista que vivia preocupado com os problemas do mundo e decidido a encontrar meios de melhorá-los. Passava dias e dias no seu laboratório à procura de respostas.

Um dia, o seu filho de sete anos invadiu o seu santuário querendo ajudar o pai a trabalhar. Claro que o cientista não queria ser interrompido e, por isso, tentou que o filho fosse brincar em vez de ficar ali a atrapalhá-lo. Mas como o menino era persistente, o pai teve de arranjar forma de entretê-lo, ali mesmo no laboratório. Foi então que reparou num mapa do mundo que vinha numa página de uma revista. Lembrou-se de cortar o mapa em vários pedaços e depois apresentou o desafio ao pequenote:

- Filho, vais ajudar-me a consertar o mundo! Aqui está o mundo todo partido. E tu vais arranjá-lo para que ele fique bem outra vez! Quando terminares chamas-me, ok?

O cientista estava convencido que a criança levaria dias a resolver o quebra-cabeças que ele tinha construído. Mas surpreendentemente, poucas horas depois, o filho já chamava por ele:

- Pai, pai, já fiz tudo. Consegui consertar o mundo!

O pai não queria acreditar, achava que era impossível um miúdo daquela idade ter conseguido montar o quebra-cabeças de uma imagem que ele nunca tinha visto antes. Por isso, apenas levantou os olhos dos seus cálculos para ver o trabalho do filho que, pensava ele, não era mais do que um disparate digno de uma criança daquela idade. Porém, quando viu o mapa completamente montado, sem nenhum erro, perguntou ao filho como é que ele tinha conseguido sem nunca ter visto um mapa do mundo anteriormente.

- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando tiraste o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando me deste o mundo para eu consertar, eu tentei mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os pedaços de papel ao contrário e comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a folha e vi que tinha consertado o mundo.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Conto Dia Mundial dos Animais

O monge e os Coelhos

Em uma colina, havia dois monges sentados. Era uma região pacífica perto do monastério onde moravam aqueles monges e haviam sempre coelhos por lá. Alguns coelhos haviam aparecido e aparentavam estar muito interessados em brincar com um daqueles dois monges. Mas perto de um deles dois, não havia aparecido coelho algum. Logo, esse monge perguntou ao outro:

- Isso é surpreendente! Você só pode ser um santo… Todos esses coelhos estão caminhando por entre suas pernas, brincando com você… Mas eles parecem fugir de mim. Qual é o segredo que você esconde?

- Não há segredo algum, eu devo lhe dizer – respondeu o monge – Eu simplesmente não como os coelhos…

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Conto Para o Dia de Gandhi

Os hábitos de economia de Mahatma Gandhi sempre surpreenderam seus seguidores. Um dia, Miraben (uma jovem inglesa que vivia no ashram de Gandhi) viu que ele procurava por alguma coisa por toda a sala. Vendo a preocupação em seu rosto, Miraben perguntou-lhe:

“O que o senhor está procurando?” “Perdeu alguma coisa?” “Sim”, disse Gandhi, “eu perdi um lápis”.  “De que tamanho ele era? Era um lápis novo?”, perguntou ela novamente, esperando ajudá-lo a encontrá-lo. “É o que eu estava usando, exatamente do tamanho do seu polegar.” 

Todos na sala admiraram por que Gandhi se sentia tão preocupado com um pequeno toco de lápis. Alguém veio com um lápis novo e deu a Gandhi. 

“Eu não quero um lápis novo”, disse ele, “Quero o que tenho usado nas últimas três semanas.” A procura continuou e finalmente o toco de lápis perdido foi encontrado em um dos seus arquivos. “Ah!” disse Gandhi com um prazeroso sorriso, como se tivesse deixado de cometer um grave pecado.

Outra vez, Gandhi estava em viagem distante com  Miraben. Eles estavam hospedados em uma vila. Gandhi tinha por hábito tomar mel em sua refeição. Miraben, quando saiu do ashram, esqueceu-se de trazer a garrafa de mel. Então, comprou uma nova garrafa de mel em uma mercearia.

Tudo estava pronto para o lanche. Quando Gandhi tomou seu assento, seus olhos pousaram sobre a nova garrafa de mel e ele perguntou: “O que aconteceu com a garrafa de mel que estávamos usando?” – “Eu esqueci de trazê-la”, disse Miraben. “Por isso, você comprou uma nova!”, disse Gandhi, um pouco aborrecido. “O dinheiro que gastamos é dinheiro do povo. Não podemos pegar este dinheiro para desperdiçá-lo. Eu não posso comer deste mel, enquanto a garrafa que estávamos usando não estiver vazia.”

Gandhi fez exatamente o que disse. Ficou sem mel até a viagem terminar e eles voltarem para o ashram, onde a velha garrafa de mel o aguardava.

(Conto extraído do livro Histórias para Crianças, Vinayak Krishna Gokak, Fundação Sai)