sábado, 5 de outubro de 2019

Uma Lição de Gratidão



Conta-se que, nos tempos idos, havia um rei que tinha dez cães selvagens. Quando um servo cometia algum erro, ele mandava jogá-lo aos cães, para ser devorado.

Um dia, um dos servos mais antigos cometeu um deslize. Imediatamente, o implacável rei ordenou que ele fosse jogado aos cães.

O servo atreveu-se a pedir: "Eu o servi por dez anos... por favor, poderia Vossa Majestade conceder-me dez dias antes de me jogar aos cães?"

O rei considerou que era um pedido razoável e resolveu atendê-lo.

Na prisão, o servo pediu à guarda para preencher seu tempo ocioso cuidando dos cães durante os dez dias. A guarda concordou e o servo passou a limpar o canil, alimentar os cães e banhá-los com todo o carinho.

Transcorridos os dez dias, ordenou o rei que o servo fosse trazido do cárcere para ser jogado aos cães. Assim foi feito. No entanto, para surpresa de todos, ao ser lançado aos cães, eis que as feras vorazes lamberam os pés do servo!

Perplexo com o que estava vendo, exclamou o rei: "Mas o que aconteceu com meus ferozes cães?"

O servo respondeu: "Eu servi a estes cães por apenas dez dias... entretanto, eles não esqueceram os meus serviços. Eu o servi por dez anos e o senhor se esqueceu de tudo no meu primeiro erro."

O rei caiu em si e ordenou que o servo fosse restabelecido no cargo.

(Dedicado a todos aqueles que se esquecem de uma palavra linda: "gratidão". E apressam-se a condenar uma pessoa, sem lembrar dos seus atos de bondade)

sábado, 18 de maio de 2019

Buda e a Água do Riacho


Diz a lenda que um dia,já em idade bastante avançada, Buda passava por uma floresta. Era um dia quente de verão e ele estava com muita sede. Então ele disse a Ananda, seu discípulo-mor: "Você precisa voltar, passamos por um pequeno riacho cinco ou seis quilômetros atrás. Vá, e leve a minha vasilha de esmolas e me traga um pouco de água. Estou com sede e cansado".

Ananda retornou, mas, ao chegar ao local, percebeu que alguns carros de bois haviam atravessado o riacho, revolvendo o leito de folhas secas e deixando a água enlameada. Já não era mais possível beber daquela água, ela estava muito suja. Ele voltou com as mãos vazias dizendo: "Você precisa esperar um pouco. Eu vou seguir adiante, pois ouvi falar de um grande rio a apenas três ou quatro quilômetros daqui. eu trarei água de lá".

Mas Buda insiste dizendo: "Volte e traga água do mesmo riacho".

Ananda não conseguia intender tanta insistência, mas, se o mestre estava ordenando, o discípulo obedeceria. Assim, ele retornou ao riacho, mesmo sabendo do absurdo que seria caminhar cinco ou seis quilômetros, sabendo que a água não era boa para ser bebida.

Ao retornar, Buda disse: "E não volte se a água ainda estiver suja. Se estiver suja, simplesmente sente à margem do riacho e permaneça em silêncio e observe. Cedo ou tarde a água estará límpida novamente. Você poderá encher a vasilha e voltar".

Ananda retornou ao local: Buda estava certo: a água estava quase límpida, as folhas tinham sido levadas, a sujeira tinha assentado. Mas ainda não estava absolutamente límpida. Assim, ele se sentou à margem e apenas observou o rio fluir. Lentamente, ele se tornou transparente como um cristal. Ananda retornou dançando. Ele havia entendido por que Buda fora tão insistente, pois na sua insistência Buda havia deixado uma mensagem que ele compreendera. Ananda entregou a água a Buda e agradeceu tocando seus pés.

Buda então disse: "O que você está fazendo? Sou eu quem deveria agradecê-lo por ter me trazido água".

Ananda retorquiu: " Agora eu entendo. No início eu estava com raiva. Eu não demonstrei, mas estava com raiva porque achava que era absurdo voltar. Agora, entendi a mensagem. Sentado a margem do riacho, me dei conta que a mesma coisa acontece com minha mente. Se eu mergulhar no rio, eu o sujarei novamente. Se eu mergulhar na mente, apenas criarei mais barulho, mais problemas serão desenterrados e irão começar a aparecer. Aprendi a técnica simplesmente ao sentar à margem".

Fique sentado à margem de sua mente, observando sua sujeira, seus problemas, suas folhas podres, mágoas, feridas, memórias , desejos. Sente-se despreocupadamente à margem de tudo e aguarde o momento em que tudo estará límpido novamente.

Isto acontecerá por si só porque, no momento em que se sentar à margem de sua mente, você não estará mais transmitindo energia para ela. Essa é a verdadeira meditação. A meditação é a arte da transcendência.


quarta-feira, 1 de maio de 2019

Sem Trabalho, Sem Comida


Hyakujo, o mestre Zen chinês, costumava trabalhar com seus discípulos mesmo na idade de 80 anos, aparando o jardim, limpando o chão, e podando as árvores.

Os discípulos sentiram pena em ver o velho mestre trabalhando tão duramente, mas eles sabiam que ele não iria escutar seus apelos para que parasse. Então eles resolveram esconder suas ferramentas.

Naquele dia o mestre não comeu. No dia seguinte também, e no outro.

“Ele deve estar irritado por termos escondido suas ferramentas,” os discípulos acharam. “É melhor nós as colocarmos de volta no lugar.”

No dia em que eles fizeram isso, o mestre trabalhou e comeu exatamente como antes. À noite ele os instruiu, simplesmente:

“Sem trabalho, sem comida.”


domingo, 28 de abril de 2019

Conhecimento e Sabedoria


Diz-se que dois jovens monges se aproximaram do mestre que, em silêncio, apreciava o sol que se espreguiçava no vale se preparando para mais um dia.

O mestre, ao vê-los, apenas sorriu sem alterar sua posição.

O mais velho dos monges cumprimentou-o com gentileza e indagou:

- Mestre, estamos discutindo e não chegamos a nenhuma conclusão sobre a diferença entre conhecimento e sabedoria. Para ele não existe diferença, para mim sim, porém, não consigo expressar em palavras o que sinto e assim convencê-lo destas diferenças.

O mestre sorriu mais uma vez e olhando para o horizonte apontou para a montanha mais alta e disse:

- Para saber a diferença, coloquem um punhado de grãos de feijão em seus sapatos e subam até o alto daquela montanha, depois conversaremos.

Ambos saíram e seguiram as orientações do mestre, não sem antes passar em seus aposentos e se preparar para a subida.

No final da tarde retornaram e encontraram o mestre esperando-os pacientemente.

O mais jovem reclamava das dores que sentia uma vez que os grãos criaram bolhas deixando inchados seus pés. O outro monge parecia nada sentir e seus pés estavam perfeitos sem nenhum problema.

Olhando para o mais jovem, que havia se sentado para aliviar a dor, disse o mestre:

- Percebeu a diferença entre conhecimento e sabedoria? Seu amigo colocou os mesmos grãos de feijão em seus sapatos, porém, tomou o cuidado de usar grãos cozidos!...

quarta-feira, 20 de março de 2019

Os Peixes e a Felicidade


Certa vez, Chuang Tzu e um amigo caminhavam à margem de um rio.

“Veja os peixes nadando na corrente” - disse Chuang Tzu, “Eles estão realmente felizes…“

“Você não é um peixe” - replicou arrogantemente seu amigo, “Então você não pode saber se eles estão felizes.“

“Você não é Chuang Tzu” - disse Chuang Tzu, “Então como você sabe que eu não sei que os peixes estão felizes?"