segunda-feira, 12 de março de 2012

Os Lobos


Ouvir as críticas, as injustiças, os insultos sem se deixar afetar por eles – esta é a tarefa do sábio. Tarefa que frequentemente parece impossível, muito acima das nossas forças. Este conto nos ajuda a refletir sobre o estado imperturbável da mente. Os lobos estão dentro de nós. Precisamos pacificar não os lobos alheios, mas os nossos primeiro.

– Mestre, preciso da sua ajuda. Eu não sei mais o que fazer.
–O que lhe parece ser o problema?
–Estou tendo muita dificuldade em controlar minha raiva. É o jeito como as pessoas são. Eu as vejo criticando os outros, enquanto são totalmente cegas aos próprios defeitos! Eu não quero criticá-las para não ser como elas, mas isto realmente me irrita!
–Eu compreendo – disse o sábio. – Mas diga-me uma coisa primeiro: não foi você que escapou por pouco da morte no ano passado?
- Sim, foi uma experiência terrível! Eu me aventurei muito longe na floresta e fui cercado por um bando de lobos esfomeados. Eram lobos grandes e teriam me estraçalhado se tivessem me apanhado!
– E o que você fez?
–Eu subi numa árvore e fiquei lá por dois dias inteiros, sem água e sem comida.
–Foi uma provação difícil!...
–Sem dúvida! Eu me salvei graças a uns caçadores que me viram e dispersaram os lobos.
–Estou curioso com uma coisa: durante essa experiência você se sentiu ofendido pelos lobos?
–Como? Ofendido?
–Sim. Ofendido ou insultado pelos lobos.
–Claro que não, Mestre. Este pensamento nunca me passou pela cabeça!
–Como não? Eles queriam mordê-lo, não queriam? Eles queriam matá-lo, não queriam?
–Sim, mas... isto é o que os lobos fazem! Eles estavam agindo conforme sua natureza! Seria um absurdo que eu encarasse isto como ofensa!
–Ótimo! Agora vamos conservar este pensamento enquanto examinamos sua pergunta. Criticar os outros enquanto permanecem cegos para os próprios defeitos é uma coisa que muitas pessoas fazem. Pode-se até dizer que é uma coisa que todos nós fazemos de vez em quando. De uma certa forma, é um lobo voraz que vive em cada um de nós. Quando os lobos mostram suas presas e o ameaçam, não se deve ficar parado. Você certamente deve proteger-se fugindo deles tanto quanto possível. O aspecto crucial é que isto deve ser feito sem que se sinta ofendido ou insultado, porque essas pessoas estão apenas sendo elas mesmas. É da natureza delas serem críticas e cheias de julgamentos, de modo que seria um absurdo ficarmos ofendidos, e seria inútil ficarmos bravos. Da próxima vez em que os lobos esfomeados na pele de homens correrem atrás de você, lembre-se: é o jeito que as pessoas são – exatamente como você disse assim que chegou.


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