A ansiedade, a pressa, a agitação travam e impedem nosso crescimento interno. O amadurecimento interior exige calma. Poucas pessoas hoje dedicam uma parcela do seu dia para tentar olhar para si mesmas com tranquilidade. Por isso os plácidos, os serenos e os iluminados são tão raros. Queremos tudo rápido, não temos tempo a perder. E nem nos damos conta na tremenda imaturidade de tudo isto. Na nossa tremenda ânsia, não queremos viver o processo, queremos chegar aos resultados. A pressa é contrária ao movimento da alma. A alma diz: "Não apresse o rio; ele contorna seus próprios obstáculos no tempo certo - o tempo do espírito".
Este conto define bem este processo:
Certa vez, um discípulo ansioso por obter rapidamente a autorrealização, foi ao seu mestre e pediu fervorosamente:
- Eu estou ansioso para entender seus ensinamentos e atingir a Iluminação!
Quanto tempo vai demorar para eu obter esse prêmio e dominar o
conhecimento que leva à libertação?
O mestre olhou para ele e calmamente respondeu:
- Uns dez anos...
Impaciente, sem acreditar no que tinha ouvido, o estudante completou:
- Mas eu quero entender todos os segredos mais rápido do que isto! Dez anos é muito tempo! Vou praticar todos os dias, estudar e decorar todos os sutras! Por favor responda-me: caso eu trabalhe duro
dez ou mais horas por dia, em quanto tempo chegarei ao
objetivo?
O mestre pensou um pouco e disse suavemente:
- Vinte anos.
domingo, 28 de outubro de 2012
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
O Velho que Perdeu sua Verruga

Em tempos que já vão longe, num vilarejo que já não existe, morava um velhinho com sua mulher,
perto de uma floresta. Na juventude ele fora um belo rapaz, mas à medida que
envelhecia, uma verruga foi crescendo no seu rosto, deixando-o um velho cada
vez mais feio. Chateado e envergonhado da sua nova aparência, ele recorreu a médicos
e magos e experimentou pós e poções de todo tipo, mas nada adiantou. Ele então
resignou‑se e passou a viver mais isolado, para que não rissem dele.
Um dia, ao
procurar lenha para o fogo na floresta, caiu uma tempestade, obrigando-o a
procurar abrigo numa árvore oca. Trovões sacudiam as montanhas e raios
cintilavam ao seu redor; ele, porém, estava seco e seguro. Depois de algum
tempo, a tempestade amainou e ele escutou vozes à distância. Pensou que seus
vizinhos tinham vindo à sua procura, mas quase desmaiou de susto ao ver um
grupo de gnomos se aproximando!
Ele nunca havia
visto um gnomo e ficou tremendo de medo, escondido dentro da árvore. Os gnomos chegaram
e um deles – que parecia ser o chefe ‑ dirigiu‑se aos outros, dizendo com um
gesto: “Vamos dar uma festa aqui”. E acomodou‑se de costas para o velho, na
frente da árvore oca.
Imóvel e
silencioso, o velho viu os gnomos organizarem rapidamente um piquenique, todos
cantando. Em seguida, ao som de uma música irresistivelmente animada, começaram
a dançar, e ele mal pôde conter o riso: eram desajeitados e deselegantes, dando
coices para todo lado e caindo. Foi então que o chefe ordenou que parassem: “Vocês
são ruins demais”, disse, lastimando-se. “Não existe ninguém aqui que saiba
dançar bem?”
“Eu bem que
poderia ensinar-lhes alguns passos”, pensou o velho, que sabia dançar muito bem,
embora há tempo não dançasse. O gnomo-chefe tornou a perguntar se alguém sabia
dançar e o velho começou a ficar dividido entre o amor pela dança e o medo dos
gnomos. O chefe repetiu a pergunta uma terceira vez e aí o velho não
resistiu; mandou seus receios às favas, saiu da árvore e curvou‑se perante o
chefe dos gnomos, dizendo: “Eu sei dançar, meu senhor”, e fez uma demonstração.
No início, os gnomos
ficaram escandalizados, sem querer aceitar um humano como professor. No
entanto, a arte do velho os cativou rapidamente, deixando-os realmente
admirados. Começaram a marcar o ritmo, acompanhando a música, enquanto outros,
contagiados com a bela dança, juntaram-se ao velho. Este, por sua vez, pôs toda
sua alma e todo seu coração na dança; esqueceu o medo e entregou-se à música e aos
movimentos, divertindo-se entre os gnomos como se fosse um deles. Quando parou,
o gnomo-chefe o aplaudiu e convidou‑o a sentar-se ao seu lado, oferecendo‑lhe
um copo de vinho. “Você precisa voltar amanhã para dançar de novo para nós”, disse.
“Gostaria muito de vir”, respondeu o velho. Porém, um dos conselheiros pediu a
palavra e lembrou: “Não se pode confiar nos homens. Precisamos ficar com algo
que nos dê certeza de que ele vai voltar”.
Vendo que o
velho nada trazia de valor consigo, o chefe decidiu assim: “Bem, já que não
trazes nada que possas deixar conosco, vou ficar com isto como penhor!” E,
estendendo a mão, agarrou a verruga do velho e arrancou-a com a facilidade de
quem arranca uma fruta madura do pé. “Trate de voltar amanhã!”, ordenou, e
todos os gnomos desapareceram.
O velho mal
podia acreditar no que acontecera. Passou a mão pelo rosto e percebeu que
estava liso, o seu rosto antigo sem a verruga horrenda! Ficou tão feliz, que
foi para casa pulando, cantando e dançando durante todo o trajeto. A esposa, ao
vê‑lo livre da verruga, mostrou‑se eufórica e ambos celebraram sua boa sorte.
Ocorre que o velho
tinha um vizinho malvado e vaidoso que também tinha uma verruga e que nunca se
cansara de procurar um tratamento para ela. Quando soube da celebração, foi
espiar e ficou perplexo ao ver que a verruga do outro havia sumido. Ao saber da
história, armou um plano e correu para encontrar os gnomos no dia seguinte,
passando-se pelo seu vizinho.
“Onde está o
velho que ia dançar para nós?” perguntou o chefe dos gnomos, ao chegar. O velho
invejoso rastejou para fora da árvore e começou a dançar. Como nunca havia
aprendido a dançar, porque considerava a dança uma atividade sem interesse, ele
apenas pulava de um lado para outro, agitando os braços. “Mas que coisa
horrível!”, exclamou o gnomo! “Você não está dançando como ontem!” (Para os
gnomos todos os humanos são iguais, por isso eles não notaram a diferença entre
os dois velhos). “Não dá para aguentar!”. Dizendo isto, o chefe vasculhou o
bolso e encontrou a verruga. Atirou-a no rosto do invejoso, gritando: “Devolvo‑lhe
o penhor!”.
A verruga grudou
no rosto do homem, ao mesmo tempo em que os gnomos desapareceram.
Em pânico, o
homem vaidoso apalpou o rosto e constatou que agora tinha duas verrugas, uma em
cada face! Voltou arrasado para casa e, daquele dia em diante, ninguém mais viu
sua cara, porque ele passou a usar um chapéu de abas bem largas, enfiado na
cabeça.
Quanto ao velho
que perdeu sua verruga, ele viveu ainda muito tempo e dançava quando se sentia
feliz (o que, na verdade, acontecia quase sempre!).
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
A Riqueza e o Conhecimento
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Saraswati |
- Quero possuir riqueza ilimitada para poder ajudar o mundo. Por favor, conte-me, qual é o segredo para se gerar abundância?
O mestre espiritual respondeu:
- Existem duas deusas que moram no coração dos seres humanos. Todos são profundamente apaixonados por essas entidades supremas. Mas elas estão envoltas num segredo que precisa ser revelado, e eu lhe contarei qual é. Com um sorriso, ele prosseguiu:
- Embora você ame as duas deusas, deve dedicar maior atenção a uma delas, a deusa do Conhecimento, cujo nome é Sarasvati. Persiga-a, ame-a, dedique-se a ela. A outra deusa, chamada Lakshmi, é a da Riqueza. Quando você dá mais atenção a Sarasvati, Lakshmi, extremamente enciumada, faz de tudo para receber o seu afeto. Assim, quanto mais você busca a deusa do Conhecimento, mais a deusa da Riqueza quer se entregar a você. Ela o seguirá para onde for e jamais o abandonará. E a riqueza que você deseja será sua para sempre.
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Lakshmi |
E lembre-se que o verdadeiro conhecimento não é o livresco, intelectual; o verdadeiro e legítimo conhecimento é aquele que nos torna mais próximos de nós mesmos.
(Conto Hindu)
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