Em tempos que já vão longe, num vilarejo que já não existe, morava um velhinho com sua mulher,
perto de uma floresta. Na juventude ele fora um belo rapaz, mas à medida que
envelhecia, uma verruga foi crescendo no seu rosto, deixando-o um velho cada
vez mais feio. Chateado e envergonhado da sua nova aparência, ele recorreu a médicos
e magos e experimentou pós e poções de todo tipo, mas nada adiantou. Ele então
resignou‑se e passou a viver mais isolado, para que não rissem dele.
Um dia, ao
procurar lenha para o fogo na floresta, caiu uma tempestade, obrigando-o a
procurar abrigo numa árvore oca. Trovões sacudiam as montanhas e raios
cintilavam ao seu redor; ele, porém, estava seco e seguro. Depois de algum
tempo, a tempestade amainou e ele escutou vozes à distância. Pensou que seus
vizinhos tinham vindo à sua procura, mas quase desmaiou de susto ao ver um
grupo de gnomos se aproximando!
Ele nunca havia
visto um gnomo e ficou tremendo de medo, escondido dentro da árvore. Os gnomos chegaram
e um deles – que parecia ser o chefe ‑ dirigiu‑se aos outros, dizendo com um
gesto: “Vamos dar uma festa aqui”. E acomodou‑se de costas para o velho, na
frente da árvore oca.
Imóvel e
silencioso, o velho viu os gnomos organizarem rapidamente um piquenique, todos
cantando. Em seguida, ao som de uma música irresistivelmente animada, começaram
a dançar, e ele mal pôde conter o riso: eram desajeitados e deselegantes, dando
coices para todo lado e caindo. Foi então que o chefe ordenou que parassem: “Vocês
são ruins demais”, disse, lastimando-se. “Não existe ninguém aqui que saiba
dançar bem?”
“Eu bem que
poderia ensinar-lhes alguns passos”, pensou o velho, que sabia dançar muito bem,
embora há tempo não dançasse. O gnomo-chefe tornou a perguntar se alguém sabia
dançar e o velho começou a ficar dividido entre o amor pela dança e o medo dos
gnomos. O chefe repetiu a pergunta uma terceira vez e aí o velho não
resistiu; mandou seus receios às favas, saiu da árvore e curvou‑se perante o
chefe dos gnomos, dizendo: “Eu sei dançar, meu senhor”, e fez uma demonstração.
No início, os gnomos
ficaram escandalizados, sem querer aceitar um humano como professor. No
entanto, a arte do velho os cativou rapidamente, deixando-os realmente
admirados. Começaram a marcar o ritmo, acompanhando a música, enquanto outros,
contagiados com a bela dança, juntaram-se ao velho. Este, por sua vez, pôs toda
sua alma e todo seu coração na dança; esqueceu o medo e entregou-se à música e aos
movimentos, divertindo-se entre os gnomos como se fosse um deles. Quando parou,
o gnomo-chefe o aplaudiu e convidou‑o a sentar-se ao seu lado, oferecendo‑lhe
um copo de vinho. “Você precisa voltar amanhã para dançar de novo para nós”, disse.
“Gostaria muito de vir”, respondeu o velho. Porém, um dos conselheiros pediu a
palavra e lembrou: “Não se pode confiar nos homens. Precisamos ficar com algo
que nos dê certeza de que ele vai voltar”.
Vendo que o
velho nada trazia de valor consigo, o chefe decidiu assim: “Bem, já que não
trazes nada que possas deixar conosco, vou ficar com isto como penhor!” E,
estendendo a mão, agarrou a verruga do velho e arrancou-a com a facilidade de
quem arranca uma fruta madura do pé. “Trate de voltar amanhã!”, ordenou, e
todos os gnomos desapareceram.
O velho mal
podia acreditar no que acontecera. Passou a mão pelo rosto e percebeu que
estava liso, o seu rosto antigo sem a verruga horrenda! Ficou tão feliz, que
foi para casa pulando, cantando e dançando durante todo o trajeto. A esposa, ao
vê‑lo livre da verruga, mostrou‑se eufórica e ambos celebraram sua boa sorte.
Ocorre que o velho
tinha um vizinho malvado e vaidoso que também tinha uma verruga e que nunca se
cansara de procurar um tratamento para ela. Quando soube da celebração, foi
espiar e ficou perplexo ao ver que a verruga do outro havia sumido. Ao saber da
história, armou um plano e correu para encontrar os gnomos no dia seguinte,
passando-se pelo seu vizinho.
“Onde está o
velho que ia dançar para nós?” perguntou o chefe dos gnomos, ao chegar. O velho
invejoso rastejou para fora da árvore e começou a dançar. Como nunca havia
aprendido a dançar, porque considerava a dança uma atividade sem interesse, ele
apenas pulava de um lado para outro, agitando os braços. “Mas que coisa
horrível!”, exclamou o gnomo! “Você não está dançando como ontem!” (Para os
gnomos todos os humanos são iguais, por isso eles não notaram a diferença entre
os dois velhos). “Não dá para aguentar!”. Dizendo isto, o chefe vasculhou o
bolso e encontrou a verruga. Atirou-a no rosto do invejoso, gritando: “Devolvo‑lhe
o penhor!”.
A verruga grudou
no rosto do homem, ao mesmo tempo em que os gnomos desapareceram.
Em pânico, o
homem vaidoso apalpou o rosto e constatou que agora tinha duas verrugas, uma em
cada face! Voltou arrasado para casa e, daquele dia em diante, ninguém mais viu
sua cara, porque ele passou a usar um chapéu de abas bem largas, enfiado na
cabeça.
Quanto ao velho
que perdeu sua verruga, ele viveu ainda muito tempo e dançava quando se sentia
feliz (o que, na verdade, acontecia quase sempre!).
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