domingo, 15 de março de 2015

O Homem que Quebrava Pedras

Era uma vez um homem muito simples, que ganhava a vida com uma profissão simples, quebrando pedras. Sua vida corria igualmente simples, até o dia em que ele passou defronte da rica mansão de um homem de negócios. Ao vislumbrar aquele luxo, ele permitiu que o ego invejoso viesse à tona e desejou, do fundo do coração, ser igual ao dono daquela casa.

A fada dos desejos captou seu desejo e, imediatamente, transformou o homem simples num próspero e rico comerciante, cercado de todas as mordomias e opulências que ele jamais sonhara em toda a sua vida.

Muito satisfeito, ele seguiu vivendo até se deparar com um oficial do alto escalão do governo, sendo levado numa liteira de seda por vários empregados submissos, e ainda escoltado por soldados que faziam a sua guarda, afastando a plebe, enquanto todos se curvavam à passagem do poderoso homem.

Imediatamente, o pensamento de inveja voltou à mente do ex-simples homem: “Que poder tem este oficial! Eu também queria muito ser um alto oficial!”

E a fada dos desejos agiu de novo, transformando o então comerciante num oficial do governo, sendo carregado pelos subalternos. Ocorre que era um dia muito quente de verão, de um calor insuportável. O novo oficial, sentindo-se desconfortável, olhou para o sol que refulgia em toda a sua majestade, indiferente à sua insignificante presença lá embaixo.

E o homem pensou: “Ah, poderoso mesmo é o sol! Gostaria muito de ser como ele!”

E – tão rápido como a velocidade da luz, o oficial tornou-se o próprio sol, seguindo sua trajetória pelo espaço e lançando seus raios sobre a terra. Até que, um dia, uma gigantesca nuvem escura se interpôs entre o sol e a terra, levando o sol a pensar que o seu poder não era tão grande quanto o poder daquela nuvem. E ele desejou ser nuvem e transformou-se em nuvem.

Foi feliz como nuvem até ser arrastado por uma ventania forte, de tal força que contra ela a nuvem nada podia fazer. E assim, a nuvem desejou ser o vento e nova metamorfose se fez.

Poderoso, soprou, como um furacão, todas as coisas abaixo e ao redor dele, destelhando casas, derrubando árvores. E prosseguiu, orgulhoso, seu caminho, espalhando temor por onde passava, até que se deparou com algo cuja fortaleza era tão grande, mas tão imensa mesmo, que deixava-a imóvel, sem se mover um milímetro sequer, por mais que o vento tentasse: era uma gigantesca rocha.

Uma vez mais, a inveja apossou-se do vento, fazendo-o desejar ser igual àquela magnífica rocha. E uma vez mais, a fada dos desejos intercedeu em seu favor, e o vento transformou-se numa bela e imensa rocha.

Sentiu-se, então, eterno, pairando acima de tudo, forte e inamovível. Então, ouviu o som de alguma coisa perturbando a sua paz, batendo em sua base. Olhou para baixo e sentiu o seu poder ser despedaçado, desmoronando pedra por pedra. Pensou: “Mas quem pode desafiar o meu poder e a minha fortaleza?”

Foi quando a rocha viu aquela figura minúscula: um simples homem, com seu cinzel, quebrando pedras.

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