Diz a lenda oriental que, certa vez, às margens de um
tranquilo lago solitário, encravado num belo bosque repleto de árvores
frondosas onde passarinhos de mil cores e mil cantos faziam seus ninhos, os
quatro elementos irmãos se encontraram. Eles eram o Fogo, o Ar, a Água e a Terra.
“Quanto tempo sem nos vermos em nossa nudez primitiva!” -
exclamou o Fogo, cheio de vigor e entusiasmo, como é de sua natureza.
“É verdade... nosso destino é bem curioso: nós nos doamos
tanto para construir as formas e terminamos ficando escravos da nossa obra e
perdendo nossa liberdade..." – disse o Ar, pesaroso.
A Água replicou:
“Pare de se queixar, irmão Ar! Nós estamos obedecendo à
Lei! Pode existir prazer maior do que servir à Criação? Por que lamentar se corres
de um lado para outro, à tua vontade, assim como o irmão Fogo, que entra e sai
por todo lado, servindo à vida e à morte! Eu faço o mesmo!”
E a Terra entrou no diálogo:
“Quem deveria se lamentar sou eu: estou sempre imóvel e,
a despeito da minha vontade, vivo dando voltas no espaço, sem nenhum descanso!”
Ao que o Fogo respondeu:
“Por favor, acabem com essa discussão pueril! Não entristeçam
a minha felicidade pelo nosso encontro! Precisamos celebrar os momentos em que
nos encontramos fora da forma! Festejemos a vida, à sombra destas árvores e à
margem deste lago formado pela nossa união!”
Todos o aplaudiram e se entregaram ao feliz momento. Cada
um compartilhou seus feitos e suas maravilhas, o que haviam construído e
destruído. Cada um deles demonstrou seu justo orgulho porque, pelo seu
trabalho, a Vida pôde se manifestar através de formas sempre mais belas e mais
perfeitas. E encheram-se regozijo.
Apenas uma nuvem sombria empanava uma alegria tão grande:
o homem. O homem era – digamos – a pedra no sapato. Como ele era ingrato! Apesar
de ter sido construído com esmero, tendo sido utilizados os mais perfeitos e
puros materiais, o homem não valorizava o próprio ser e abusava dos elementos
que o haviam criado, perdendo-os. Os irmãos tiveram todos o mesmo desejo, de
retirar sua cooperação e privar o homem de realizar suas experiências no plano
físico... Mas a nuvem dissipou-se e a alegria voltou a reinar entre eles.
Ao chegar o momento de se separarem, decidiram deixar algo
que marcasse aquele encontro; algo que se perpetuasse no tempo; algo que
pudesse combinar os fragmentos de cada um de forma harmônica, expressando sua independência e suas diferenças, para que servisse de símbolo e exemplo para o
homem.
Pensaram e projetaram, até que, subitamente, vendo seu
reflexo no lago, os quatro tiveram a mesma ideia:
“E se criássemos uma planta cujas raízes estivessem no
fundo do lago, a haste na água e as folhas e flores fora dela?”
A Terra logo se prontificou:
“Eu colocarei nela as melhores forças de minhas entranhas
e alimentarei suas raízes!”
Disse a Água:
“Eu instilarei nela as melhores linfas de meus seios, fazendo
crescer a sua haste!”
O Ar imediatamente continuou:
“Eu soprarei nela as minhas melhores brisas, para tonifica-la!”
E o Fogo terminou:
“E eu doarei para ela todo o meu calor, a fim de que suas
corolas se tinjam das mais formosas cores!”
Assim disseram, assim fizeram. Com muito entusiasmo e
amor, os quatro irmãos deram início à fantástica criação. Como que por encanto,
a forma foi sendo plasmada laboriosamente, até que as raízes, a haste, as
folhas e as flores apareceram. O sol abençoou-a e a planta foi saudada como
rainha pela flora do local.
Satisfeitos, os quatro elementos se separaram, deixando a
Flor-de-Lótus a brilhar no lago, exibindo sua beleza imaculada e inspirando o
homem como símbolo da pureza e perfeição.
E os deuses, ao chegar à Terra, escolheram o Lótus como trono.
(Conto adaptado pela autora do blog).
(Conto adaptado pela autora do blog).
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